sábado, 22 de março de 2014

Sobre os Textos e Imagens deste Blog

          Antes de tudo quero agradecer a sua visita, seja você quem for.

           Sou uma Itanhaense apaixonada, de olhar atento à sua cidade, registrando a todo momento cenas e momentos só nossos.

           Os textos  e imagens aqui inseridos neste blog fazem parte de meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do extinto Curso de Artes Visuais pela Universidade Santa Cecília - Santos, em 2012, sob o título: Um Novo Olhar sobre Itanhaém, devidamente registrado.

             Estou divulgando-o para que minhas memórias e informações possam acrescentar-se às suas.



             Todo este trabalho, cada fotografia foi dedicada In Memoriam a minha avó Glória, ou como eu e meus irmãos chamávamos: Góia, por ter-nos ensinado a amar e respeitar o lugar que vivemos e a cultura que herdamos.


                                     São todos bem vindos!




Nascer do Sol - Praia dos Pescadores - Itanhaém. Foto de Thais Oliveira Silva - 16 de Março de 2014 - 




ABSTRAINDO O COTIDIANO A TODO MOMENTO (séries fotográficas)



Como a fotografia é muito mais um documento impregnado de fantasia, tanto do fotógrafo quanto do fotografado, quanto do “leitor” da fotografia, do que de exatidões próprias da verossimilhança. O que o fotógrafo registra em sua imagem não é só o que está presente ali no que fotografa, mas também, e, sobretudo, as discrepâncias entre o que pensa ver e o que está lá, mas não é visível. A fotografia é muito mais indício do irreal do que do que do real, muito mais o supostamente real recoberto e decodificado pelo fantasioso, pelos produtos do autoengano necessário e próprio da reprodução das relações sociais e de seu respectivo imaginário. A fotografia, no que supostamente revela e no seu caráter indicial, revela também o ausente, dá-lhe visibilidade, propõe-se antes de tudo como realismo da incerteza. (MARTINS, 2008, p.28)

O fotógrafo é capaz de converter uma rua da cidade, um momento, o olhar de uma criança, de um velho, a solidão dum homem em mitos, em concepções imagéticas que transportam o espectador para novas, e por vezes velhas  dimensões.  A fotografia contemporânea, tal como a pintura, tem na sua essência a criação de metáforas, de conotações, de analogias diversas, conseguindo converter a objetividade em subjetividade. O visível não é necessariamente aquilo que se nos é apresentado perante os olhos. (TAVARES, 2008)
Durante todo meu percurso, busquei em cada imagem obtida abstrair o cotidiano, compor imagens que dessem vazão à conotação, a interpretações diversas a cada leitura. Entretanto, busquei na série “Abstraindo o Cotidiano” modos muito mais sugestivos e cheios de significações para registrar minha cidade. Na imagem abaixo busquei captar algo que sempre aprecio observar nos dias de chuva , a distorção natural que as gotas de chuva provocam nas janelas em meus percursos cotidianos. Dias chuvosos são melancólicos a meu ver, pois gosto das cores encontradas nos dias ensolarados, mas são precisos e necessários em nossas vidas.

Na área das emoções a fotografia tenta nestes tempos, como, aliás, já o fez no passado, de acordo com Tavares (2009), explorar e tratar a condição humana: desilusão, ansiedade, desespero, solidão, fobia, mas também a alegria, a festa, a esperança. “O ser humano, na sua relação com o mundo atual, é o centro de atenção dos artistas mais recentes”. (TAVARES, 2009, p.8)


Praia do Sonho vista da janela num dia chuvoso. Foto de Thais Oliveira Silva. 30. Abr. 2012.


            Para tanto, é necessário ter em mente que:

A fotografia não está enclausurada à condição de registro iconográfico dos cenários, personagens e fatos das mais diversas naturezas que configuram os infinitos assuntos a circundar os fotógrafos, onde quer que se movimentem. A fotografia por ser meio de expressão individual, sempre se prestou a incursões puramente estéticas; a imaginação criadora é pois inerente a essa forma de expressão; não pode ser entendida apenas como registro da realidade factual. A deformação intencional [grifo nosso] dos assuntos através das possibilidades de efeitos ópticos e químicos, assim como a abstração, montagem e alteração visual da ordem natural das coisas, a criação enfim de novas realidades têm sido exploradas constantemente pelos fotógrafos. Nesse sentido, o assunto teatralmente construído segundo uma proposta dramática, psicológica, surrealista, romântica, política, caricaturesca etc., embora fruto do imaginário do autor, não deixa de ser um visível fotográfico captado de um realidade imaginada. Seu respectivo registro visual documenta a atividade criativa do autor, além de ser, em si mesmo, uma manifestação de arte. (KOSSOY, 2001, p. 49)

Novamente, Kossoy (2001, p. 50) declara a atuação do fotógrafo como filtro cultural: “seu talento e intelecto influirão no produto final desde o momento da seleção do fragmento até sua materialização iconográfica.” Deste modo o testemunho e a criação são indissociáveis, nas palavras do autor, são um “binômio indivisível”. Não importa o assunto registrado na fotografia, esta não será nunca imparcial, documentando sempre a visão de mundo do fotógrafo. Ela é um duplo testemunho por: “nos mostrar a cena passada, irresistível, ali congelada fragmentariamente, e por aquilo que nos informa acerca de seu autor” (KOSSOY, 2001, p. 50) O autor prossegue afirmando sobre o poder do fotógrafo na concepção da imagem:

As possibilidades de o fotógrafo interferir na imagem – e portanto na configuração própria do assunto no contexto da realidade – sempre existiram desde a invenção da fotografia. Dramatizando ou valorizando esteticamente os cenários, deformando a aparência dos seus retratados, alterando o realismo físico da natureza e das coisas, omitindo ou introduzindo detalhes, elaborando a composição ou incursionando na própria linguagem do meio, o fotógrafo sempre manipulou seus temas de alguma forma: técnica, estética ou ideologicamente. (KOSSOY, 2001, p.108)

Porém, é difícil quebrar alguns paradigmas na área da fotografia, pois o valor da mesma como o espelho do real está cristalizado no senso comum. Sontag (2006) nos lembra de que:

O que está escrito sobre uma pessoa ou um fato é, declaradamente, uma interpretação, do mesmo modo que as manifestações visuais feitas a mão, como pinturas e desenhos. Imagens fotográficas não parecem manifestações a respeito do mundo, mas sim pedaços dele, miniaturas da realidade que qualquer um pode fazer ou adquirir. [...] Porém, apesar da presunção de veracidade que confere autoridade, interesse e sedução a todas as fotos, a obra que os fotógrafos produzem não constitui uma exceção genérica ao comércio nebuloso entre arte e verdade. Mesmo quando os fotógrafos estão muito mais preocupados em espelhar a realidade, ainda são assediados por imperativos de gosto e de consciência. (SONTAG, 2006, p.16-17)

            Tal fato nós podemos observar em nosso cotidiano ao nos depararmos com as imagens publicitárias, as quais após sua edição tem o enorme poder de seduzir a população em geral. Para Sontag (2006), a imaginação fotográfica envolve um modo de produção de imagens fotográficas, a composição e a perspectiva, o apelo a recursos técnicos para escolher e definir a profundidade de campo, enfim, um modo de construir a fotografia, de juntar no espaço fotográfico tudo o que da fotografia deve fazer parte e o modo como deve fazer parte.

 O chamado “congelamento” do instante fotográfico é na verdade a redução das desencontradas temporalidades contidas nos diferentes componentes da composição fotográfica a um único e peculiar tempo, o tempo da fotografia. [...] Se a fotografia aparentemente “congela” um momento, sociologicamente, de fato, “descongela” esse momento ao remetê-lo para a dimensão da história, da cultura e das relações sociais. O “congelar” não é mais do que o sublinhar elementos de referência de um imaginário cujo âmbito não se restringe ao reducionismo dos supostos “congelamentos”. (SONTAG, 2006, p. 65)

Portando, nestes congelamentos obtidos com nossas imagens fotográficas pomos em evidência tudo aquilo que denuncia o que apreciamos, quais são nossas referências estéticas, revelando-nos a todo o momento. Neste sentido, revelando a condição em que se encontra o fotógrafo:

O fotógrafo é, pois uma categoria de observador que se pode realizar imediata e inteiramente, no vazio verbal, mas não no vazio visual. [...] Ele fotografa o que vê, muitas vezes sem compreender, mas sem por isso se sentir frustrado por uma compreensão intelectual que, aliás, não busca em estado, em primeira instância.  (MARESCA apud ANDRADE 2002, p. 142)

Este sentimento de colecionar intensamente imagens passou a dominar-me desde Dezembro de 2011. Cada particularidade de minha terra que eu observava e conseguia visualizar uma boa composição, eu a registrava com minha câmera fotográfica que me servia como um bloco de anotações.
Deste modo, busquei constantemente observar minha cidade de modo mais apurado, persistente, buscando ver o que dantes eu não percebia. Para descrever tal acontecimento, faço das palavras da autora as minhas:

o exercício de fotografar ensinou-me a contemplar as coisas do mundo, a reparar no movimento da natureza e na natureza dos movimentos. Aprendi a observar as pequenas coisas dentro de um universo, os detalhes dentro da globalidade. (ANDRADE, 2008, p.18)

As palavras de Andrade (2002) esclarecem minha proposta em fomentar a observação acurada do que nos cerca, quando nos fala que sobre a população em geral onde aprendemos a ver apenas o que precisamos ver. Atravessamos nossos dias com viseiras, observando apenas uma fração do que nos rodeia. Para Andrade (2002, p. 54), “Os homens modernos não são tão bons observadores, e o uso da câmera fotográfica pode auxiliar sua percepção”.
Ainda sobre este mesma abordagem, Andrade (2002), diz:

Olhar para o mundo é uma condição, compreendê-lo por meio deste olhar é uma busca eterna, instigante e fascinante. Fascinante porque é pela contemplação da beleza do mundo que nos encantamos e nos apaixonamos. Instigante porque a vontade de mergulhar em seu desconhecido pode nos levar ao diferente e transformar o que estamos viciados a enxergar. (p.114)

Com a observação atenta, fazemos parte do mundo e não apenas estamos inseridos nele. Quanto mais nos aprofundarmos naquilo que enxergamos, mas conheceremos do objeto e de nós mesmos. “Tecemos nossas conclusões pelos fragmentos e pelos recortes. Tecemos um olhar por fotografias”. (ANDRADE, 2002, p.115)
Nesta conturbada vida em que levamos, perdemos a relação com o tempo e seu direcionamento. Observar, contemplar o nosso meio requer tempo. “Para saboreá-las, é preciso parar, o que é quase impossível diante do imediatismo de nossas necessidades diárias. Vida moderna, fugaz e efêmera.” (ANDRADE, 2002, p.116)
Portanto devemos nos debruçar atentamente sobre nosso tema, registrando-o com respeito, saboreando o instante vivido:

“Uma grande foto” tem de ser uma expressão plena daquilo que a pessoa sente a respeito do que é fotografado, no sentido mais profundo, e é portanto uma expressão verdadeira daquilo que a pessoa sente a respeito da vida em seu todo. ( ADAMS apud SONTAG, 2006, p. 135)

No ano de 1904, os irmãos Lumière, com base numa técnica própria, começaram a fazer as primeiras fotografias coloridas, claramente influenciadas pela pintura impressionista, indício de quanto ainda persistia a dúvida dos fotógrafos em relação à fotografia “prisioneira da ideologia do verossímil e quanto titubeavam em abandonar a possibilidade de situá-la no imaginário da arte”. (MARTINS, 2008, p. 151)
O impressionismo muito me influenciou no que concerne a fotografar várias vezes o mesmo lugar, porém variando a perspectiva e principalmente variando em função do dia e da luz. “Cada momento do dia criava o seu próprio espaço e, sobretudo, a sua espacialidade singular, através da linguagem do reflexo. [...] Em diferentes dias e em diferentes momentos do dia eram diferentes as imagens da mesma coisa.” (MARTINS, 2008, p.158)

Penso que há no impressionismo um ímpeto totalizador na tensão da linguagem que lhe é própria, traços e cores libertos dos formalismos da pintura que precedeu, uma luz que procura se expandir, incontida nos limites do quadro e do enquadramento. A fotografia, como a pintura anterior ao Impressionismo, se orientará no sentido de sugerir a quem a vê que o todo já está nela contido, que não há nenhuma continuidade visual além do que foi fotografado. Em contraste, portanto, com as primeiras holografias, de imprecisões polissêmicas e impressionistas, sugerindo que o objeto é apenas o indício de uma visualidade mais extensa, carregada de incógnitas mais do que seguras certezas. (MARTINS, 2008, p. 152)

Tanto nessas primeiras fotografias quanto na pintura Impressionista, percebemos a imprecisão de contornos e a intensidade de luz que parecem atender às necessidades de uma época de explosão do imaginário e do anseio de liberdade de representar livremente o apresentado, anseio de antepor a liberdade interior do sujeito à tirania exterior do objeto. Neste conturbado século XIX encontramos: “Contradição e resistência anárquica aos crescentes constrangimentos do imaginário contrário, o das precisões de um objetivismo insaciável e castrador”. (MARTINS, 2008, p. 152)
Infelizmente, desde suas origens a fotografia foi capturada para tornar-se servil do real, sendo apenas seu espelho. Tanto que em apenas meio século de sua invenção, conforme expõe Martins (2008), o retrato fotográfico era utilizado para identificação nas fichas policiais e nos passaportes. Há, nesse sentido, uma necessidade de vigilância, de deixar em cada fotografia os elementos bem visíveis e apresentáveis.
Assim como foi o contexto social para o surgimento do Impressionismo, que em meio a cenários cinzentos e esfumaçados, das recentes fábricas, os artistas ansiavam por liberdade, como nos informa Martins (2008), desejando representar livremente, buscando principalmente a liberdade interior, para que esta se extravase para o exterior sem nenhuma amarra e flua para sua criação artística. E hoje, é o que desejei e busquei com esta série fotográfica. Meu contexto social é bem diverso do momento histórico onde nasceu o Impressionismo, mas, com o mesmo anseio destes percussores libertos, anseio pela liberdade, bem como anseio por deixar fluir meu imaginário para cada uma de minhas fotografias. Sem temer aos presentes e futuros constrangimentos do imaginário contrário, com suas regras definidas e inalteráveis; cegos devido a seu objetivismo insaciável e castrador (MARTINS, 2008), os quais tentam com suas críticas destrutivas, me “corrigir”, mas quem há de impedir o meu olhar? 
 “A fotografia se afastou progressivamente do imaginário de imprecisões reais em que nasceu sem dele se divorciar completamente.” (MARTINS, 2008, p.159) Sua nitidez fez com que a sociedade industrial e moderna a aprisionasse. Numa época em que a pintura explorava, com o Impressionismo, a linguagem imprecisa da imagem, oriundas da poluição da água e do ar, pelos reflexos gerados pela mesma, a fotografia estava fazendo o trajeto oposto. A fotografia estava criando seu próprio mito, de acordo com o autor, buscando o rebuscamento da forma e da semelhança com o real. Enquanto a pintura optou pela liberdade, a fotografia escolhe sua submissão ao supostamente documental.
 Neste pressuposto, conforme analisa Martins (2008), não é de se admirar que um pintor, Henri Cartier-Bresson, na condição de fotógrafo, tenha criado uma linguagem e uma estética libertadora, que é uma saída desta prisão em que a fotografia foi encerrada. Bresson através do momento decisivo encontra a espontaneidade e liberdade ao estar previamente no “lugar certo”, assim, o fotógrafo deve ser ágil e perspicaz. “É que para Cartier-Bresson, coisas e pessoas se definem na relação e no relativo. A escolha prévia do cenário do momento decisivo da fotografia é escolha da mediação significante sem a qual o tema, a ação, não terá sentido.” (MARTINS, 2008, p.160)
Seguindo o grande mestre Bresson, pude voltar a diversos cenários onde se desenrolaram inúmeros fatos de minha vida e os captar de um modo único, incomum, como é o caso da foto abaixo. Onde pude unir lembranças de minha infância às reflexões artísticas. De minha infância tenho esta posição, que para captura-la tive que me abaixar, mas quando eu tinha sete anos era este meu tamanho, minha visão. Eu observava o rio sempre através destas janelas, enfim, as grades de proteção da ponte da rodovia Padre Manoel da Nóbrega, quando íamos a pé à casa dos parentes de minha avó.



Uma janela sob o Rio. Foto de Thais Oliveira Silva. 05. Jul. 2012.


Este conjunto ponte-e-rio sempre esteve guardado em minha mente. E, agora, anos depois de tantas vivências adicionadas a esta, decidi registrá-la também direcionando a imagem não apenas ao passado, mas ao presente, às minhas reflexões a respeito da fotografia.
Propus esta imagem como se estivéssemos posicionados do mundo abstrato, subjetivo observando o mundo real, objetivo. O contraste de cores quentes, do muro e frias, do rio também não foi aleatório, desejei que nos dessem este sensação de oposições de mundos diferentes, mas, que ao mesmo tempo há harmonia. É a liberdade de observar lugares conhecidos ou não com um olhar mais observador, um olhar que é capaz de unir e imprimir nossas vivências em cada imagem produzida.
E esta mesma liberdade orientou a concepção de minha série fotográfica, em que na perspectiva do fotógrafo português João Evangelista o qual suas produções concentram-se em imagens abstratas, o qual eu contatei através inicialmente do site olhares e mais tarde através de e-mails, fala a respeito de minha produção:

[...] No seu caso além da leitura subjectiva ou abstracta ser mais complexa ela só está ao alcance do observador se ele se demorar a olhar suas fotos, no seu caso o observador é obrigado a olhar como deve ser pois ele só será "recompensado" com uma leitura mais subjectiva do mundo real se ele fizer um esforço e isso para mim é bom pois além do observador apurar sua capacidade de observar fotos, você obriga-o a por em questão a realidade e o mundo que o rodeia...É bom porque as pessoas estão tão acostumadas e ver o mundo "direitinho" que acabam por se conformarem com tudo e aceitam tudo sem pensar...Com essa coisa da vida cada vez mais apressada e estressada já não põem nada em questão e aceitam tudo sem pensar duas vezes primeiro!!!     
Você está fazendo com que as pessoas voltem a pensar sobre o mundo que está à sua volta em vez de aceitar tudo sem mais nem menos!
O que você faz é distorcer o objectivo e a realidade para que as pessoas não possam ter uma leitura óbvia e normal do mundo real, obrigando-as a se questionarem e buscar uma leitura que torne lógico e aceitável, acabando por se "refugiarem" numa leitura abstracta e subjectiva em que uma casa inclinada já não incomoda, pois passou a ser uma forma independente do que é na realidade e passa a ser aceitável estar "torta"!!!...Tudo deixa de ser uma paisagem e passa a ser uma harmonia de forma e linhas que dependendo da sua força visual dão uma imagem estável ou dinâmica! [...] Quando você inclina o assunto nas suas fotos, é como se você estivesse dando um 1º passo para que você e o observador se livre do conformismo e rotina da realidade para depois seguir em direcção à abstracção!...E ajudando as pessoas a "acordarem" e verem o mundo com outro olhar!
Pelo que eu aprendi sobre abstracção, tudo pode se tornar numa foto ou obra abstracta por uma simples razão: A verdadeira abstracção tem sempre origem na realidade!!!!...a própria palavra está dizendo que estamos a abstrair alguma coisa e no caso da abstracção é a realidade!!!!...Tanto é verdade que só quando a obra final não tem nada que seja relacionado com o mundo real é que pode ser chamada de abstracta!...Só ao abstrair a realidade é que entramos no mundo das formas, linhas, manchas de cor para criar harmonia sem estarmos presos ao que é familiar e real!


(PEREIRA, João Evangelista Dos Santos. JEvangelista. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por < jespcl3@yahoo.fr> em 03. Jul. 2012.)



Uma Face? Foto de Thais Oliveira Silva. 06. Dez. 2012



Neste sentido de busca por formas que nos convidem à reflexão andei por toda a cidade tentando encontrá-las pra enfim registrar. Na imagem acima vê-se uma forma que contém luz e sombra. A primeiro olhar eu reconheci uma face em perfil. O leitor é livre para ler o que quiser nesta e em qualquer imagem. O importante é ler, é perceber o mundo que nos rodeia. Tal forma foi realizada pelos reflexos da iluminação artificial na Praia dos Sonhos numa quente noite de verão a qual saímos para caminhar sobre ela. Tudo pode ser lido.

A foto abaixo é algo que pertence a meu cotidiano. Sempre o vejo em meus percursos quando vou ao centro utilizando a ciclovia da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega. Diversos postes de eletricidade que desde minha infância os relaciono com a Torre Eiffel estão dispostos à beira da Rodovia. Registrei a imagem quando um dos postes está postado em frente a enorme floresta retorcida, o grande manguezal que se encontra após o Rio Itanhaém em direção ao sul. Focalizei apenas parte da estrutura a fim de criar uma espécie de prisão, grades à mata nativa. Felizmente o que lá prevalece é a Mata Atlântica.


Natureza Encarcerada. Foto de Thais Oliveira Silva. 03. Jul. 2012


            Estudei o Ensino Fundamental I e II na Escola Estadual Prof. José Carlos Braga de Souza, localizada no Bairro do Jardim Savoy. Há mais de vinte anos os muros da escola permanecem nesta condição, deteriorado e com diversas fendas. Ao passar por lá, na entrada ou saída da escola, minha distração era enquadrar a paisagem subsequente. (FIGURA 164). Os Morros do Bairro do Vergara, toda mata que circunda meu antigo bairro estavam sob minha vista. Gostava de perceber que a cada passo, em uma nova perfuração no muro, o enquadramento modificava, elementos novos surgiam, o quadro era maior ou menor, dependendo do tamanho da falha do muro. E assim, mesmo através de algo fútil, muitas vezes inaceitável, por se tratar de um muro de uma escola, em estado de abandono, treinei meu olhar desde pequena. Meu visor era qualquer elemento que pudesse enquadrar o mundo.
 Primeiramente minha Itanhaém, a qual me possibilitou o treino do olhar, o prazer pelo efêmero, fugaz, a observação de acontecimentos que poucos percebem. Hoje não preciso mais das perfurações do antigo muro. Hoje sou capaz de observar o Mundo ao meu redor com mais clareza, com mais paixão. 



Espiando através do Muro. Foto de Thais Oliveira Silva. 29. Abr. 2012

Recortes da Vida cotidiana na praia

Itanhaém sonho infindo
É a namorada do mar
O teu luar
E o céu tão lindo
São um convite para a gente amar

Itanhaem magia
De luz e cor
É um doce paraíso
Dos sonhos de amor
Estrelas mil cintilam
No céu azul
Grinalda de princesa
Dos mares do sul

(José Rosendo e Ernesto Zwarg. In: Itanhaém, um mar de histórias. Itanhaém: Expoente, 2008)

            Muitos moradores de Itanhaém têm por hábito após o trabalho irem até a praia para observá-la. É um momento realmente único. Como é singular, ver a tarde caindo em minha terra. Em dias outonais, onde o frio já se aproxima, poucos ousam ainda estar na praia, vê-la bem de perto, mas o entardecer vista das areias da praia, é inesquecível, nossos morros fazendo uma excelente moldura a maravilhosa obra de arte do Criador, a queda do Rei Sol, este indo numa marcha fúnebre para as terras sombrias, mas a marcha não é soturna, é bela, o sol se vai, mas deixa após si uma explosão de tons vermelhos, rosas, laranjas, dourado, ele está partindo, mas sempre deixa saudades. Até o dia seguinte. E o seguinte. E o seguinte. Itanhaenses que ao observar algo majestoso nos céus ou no mar, sempre tem o desejo de fotografar tal imagem a nós apresentada, já que:

É comum, para aqueles que puseram os olhos em algo belo, lamentar-se de não ter podido fotografá-lo. [...] Aprendemos a nos ver fotograficamente: ver a si mesmo como uma pessoa atraente é, a rigor, julgar que se ficaria bem numa fotografia. (SONTAG, 2006, p.102)

Tantos itanhaenses gostam de observarem o mar em diversas ocasiões e dias. Eu sempre me pego imaginando o que estão pensando naquele momento. Tanta saudade o mar já não ouviu? Tantas lembranças, de inúmeras gerações desta terra que tiveram o mar por confidente e este nos ouve e o mar guarda nossas confidências, choros secretos, escondidos de todos o mar que já presenciou. Tantas ilusões, tantos dramas que já ouviu. A profundeza do mar inteira a guardar tantos segredos. Será possível que todas estas ondas espumadas estejam repletas de lágrimas?
Nós que convivemos com o mar podemos até afirmar que o conhecemos, mas, no entanto, não conseguimos esquadrinha-lo por completo. Ele sempre nos será surpreendente, nos trazendo sentimentos e emoções únicas. Pode até ser para muitos ser algo repetitivo este gesto do mar, de vai e vem, mas para aqueles que o ama, é o movimento de um amante que vem beijar sua amada, a praia, este que vem másculo e forte, um movimentos tão repentinos, principalmente no Praião, onde há um turbilhão de ondas sem descanso, local ideal de muita gente, não sei se porque a vista é estonteante e hipnotizadora ou se é a praia do centro da cidade. Mas de uma forma ou de outra, sempre será misterioso para quem o olhe, como um coração humano, impossível de ser sondado.
 Na Figura 154 temos a imagem de homem que olha atentamente em direção ao mar, segurando sua bicicleta. Não sei se ele é um pescador a observar se as condições climáticas são favoráveis à pesca, se está descansando ou se apenas procurou o local para ficar consigo mesmo. Mas as motivações deste homem não nos interessam, é particular. O que importa é que o mar sempre nos responde.

Como também na Figura 155 onde vemos registrado um moço observando o mar, perdido em seus pensamentos. Eu havia parado ai para descansar e achei muito interessante a atitude dele, há muito tempo estivera ali, em meio a devaneios, com os olhos fixos no mar, nunca saberemos o que se passava em sua mente, em seu coração. Tal como esta mulher encontrada na foto abaixo, na Praia do Cibratel que há muito tempo devaneava sob esta pedra numa tarde quente de verão. A qual nem mesmo a constante presença de diferentes pessoas a ir e vir não a incomodou, ela estava totalmente imersa em seus pensamentos. Quais eram eles? São insondáveis a nós.


Insondável I. Foto de Thais Oliveira Silva. 03. Jul. 2012



Insondável II. Foto de Thais Oliveira Silva. 24. Jan. 2012



Insondável III. Foto de Thais Oliveira Silva. 24. Jan. 2012



Em cada presença silenciosa onde pude observar diante do mar, lá está meu testemunho do que pude presenciar, mesmo sem sabermos as motivações de cada personagem registradas nas imagens fotográficas de estar no local, a simples presença destes foi capturada.

A imagem do real retida pela fotografia (quando preservada ou reproduzida) fornece o testemunho visual e material dos fatos aos espectadores ausentes da cena. A imagem fotográfica é o que resta do acontecido, fragmento congelado de uma realidade passada, informação maior de vida e morte, além de ser o produto final que caracteriza a intromissão de um ser fotógrafo num instante dos tempos. (KOSSOY, 2001, p.37)



Longas tardes de Verão. Foto de Thais Oliveira Silva. 30. Jan. 2012




             O homem da Figura 158 vinha de longe, vi seu pequeno contorno a uma distancia considerável aproximando-se de mim paulatinamente. Ele está tranquilo, apenas caminha a beira mar sem levar consigo nenhum pertence. A pureza do azul da cena fecha este ciclo de calmaria ai existente.


Uma Tarde na Praia. Foto de Thais Oliveira Silva. 30. Jan. 2012




Aqui todo ecoa não com a urgência das grandes cidades, mas com a calma dos artesãos de nossa cidade. As caminhadas pelas orlas de nossas praias, acompanhadas pelo cantar do mar são herança de cada cidadão local. Na foto acima temos em primeiro plano um pai atento observando seu pequeno brincar com a areia do mar e em segundo plano outros tanto personagens, todos calmos, todos apenas vivendo e fruindo cada momento proporcionado por tão belo local.
Itanhaenses que despertam inveja nos veraneios, não por suas posses, mas pela paz que nós possuímos; nossa vida levada na calmaria, sem o clamor e a agitação das grandes cidades. Paz esta que provém da fé católica herdada, onde permite o descansar em meio a dificuldades, descansar Nele: a Grande Providência, aquele que figura como o Menino nascido e anunciado pelos Magos, ou pela Pombinha Branca do alto do Mastro, a Santa Mãe que do alto do Morro Itaguaçu os abençoa. Aquele que está sempre do lado deste povo simples.



Outras  Imagens: 









Praia e mar

Vinha descalço, cansado
e, com o cesto pesado
quase nem podia andar
perguntei, então menino
o que trazes pra vender?
quero comprar, tenho fome,
e não tenho o que comer.
Ele me olhou admirado
olhou meu carro quebrado.
encostou no barranco
sorriu e disse: pois não
e posto o cesto no chão
mostrou-me tudo o que tinha
que dava para um fartão.
Camarão seco, palmito,
um naco de peixe frito
e frutas em profusão...
banana, caju, pitangas,
goiabas, laranjas, mangas
espiga de milho verde
batata doce, cará
e ainda um cacho de indaiá.
E enquanto os petiscos eu devorava
o pequenino sem me olhar cantava
uma singela e singular canção
falava na riqueza de sua terra
na água fresca que descia a serra
regando os bananais, descendo pro grotão
nos mantos de arrozais se escondiam
nos goiabais que a muitos enriqueciam
nos vastos palmitais...
E do pescado fresco prateado
das redes cheias de camarões lousados
d´uma fartura que eu não vi jamais
-Mas quem es tu? Falei admirada
e donde vens a pé por esta estrada
que aqui nesta fartura vives na pobreza?
hé? Não me conheces? Não te levo a mal
meu dia chegará, tenho certeza...
Eu sou... O Litoral.

(Pedrinha Zwarg. Terra da promissão. In: Poesias e trovas, 1999)



Infinito Azul. Foto de Thais Oliveira Silva. 30. Jan. 2012


O eterno vai e vem das ondas nas praias, das ondas nos costões estarão para sempre guardados em minha memória, seu som, seu odor característico, sua bela aparência. Não apenas em escassos dias o visito, mas sempre. O mar me encanta sobremaneira, preciso observá-lo todos os dias.
E não me refiro a qualquer vista para o mar, mas a de minha cidade, minha Itanhaém, sempre a verei como um poema musical, cantando a beleza imensa do nosso mar, a amplidão de nosso céu azul, com suas belas serras azuis que nada mais são do que imensas várzeas multicoloridas, em diversos tons de verdes, uma profusão de cores e odores únicos.
O vento praiano é algo delicioso de se sentir e uma pena não poder registrá-lo em minhas fotografias. Ele me desafia a encará-lo, me conforta, quando estou a seu favor, nos dias quentes, me traz o cheiro de minha cidade, este odor salino que tanto me encanta. Gosto de tê-lo em mim para assim eu estar em harmonia com minha terra, ser uma só com ela, não uma intrusa. A foto abaixo foi realizada num destes meus percursos onde caminho até a beira-mar para sentir sua maresia em mim. O local que foi registrado pela manhã é a Praia do Centro, imagem tomada em frente á Praça 22 de Abril, centro.


Maresia Onipresente. Foto de Thais Oliveira Silva. 05. Jul. 2012




Querida Itanhaém. Foto de Thais Oliveira Silva. 24. Jan. 2012






Editei a Figura 143 deixando-a monocromática, para que possamos ater-nos ás suas formas e a tonalidade existente na cena, que vai da cor intensa das escuras matas do Morro do Sapucaetava, passando pelos tons médios da grama na orla da Praia até chegar á pura areia do local. Vemos ao fundo pescadores neste local que também é muito procurado por eles, onde há o encontro do mar com o rio, porém os homens estão tão pequeninos ante a beleza e potência do local. Idealizei a cena e tantas outras neste percurso artístico tendo em mente a busca dos artistas do Romantismo, onde registravam a natureza sempre bela imensa e o homem sendo apenas um elemento pequeno na obra. Esta foi minha busca inicial para compor imagens de paisagens.
Em minha poética visual, as fotos marítimas concentraram-se principalmente em registrar a Praia dos Pescadores, um local que amo desde minha infância, com suas águas calmas, características de sua baía, de sua aparência sempre agradável.

A prainha se situa em pequena baía protegida pelo costão rochoso e pela Ilha Givura (Ilha das Cabras), local até hoje usado pelos pescadores artesanais para acesso ao mar e venda de peixe fresco. O local foi “ocupado” na década de sessenta, também pelos pescadores catarinenses, com suas grandes canoas de voga e motor de popa, grupos semelhantes na filosofia de vida e origens. Hoje já não se distinguem os catarinenses dos da terra – todos pescadores caiçaras na luta pela sobrevivência. (BRANCO, 2005, p.33)

O interesse pelo loteamento da Prainha, de acordo com Branco (2005), teve início logo que a ponte Sertório Domiciliano foi construída sobre o Rio Itanhaém; hoje este lugar que é um dos mais antigos da cidade está ocupado pela urbanização.
Fotografei a Prainha numa fria e atípica tarde de Dezembro, que editei posteriormente, tornando-a monocromática nos tons sépia. O céu refletido sob os areais úmidos do local seguem a mesma luminosidade. As nuvens situadas à direita da imagem são as responsáveis pelo escurecimento da imagem, onde atrás delas está nossa fonte luz, o sol. À esquerda, da imagem não há nuvens, há um céu límpido, porém o mar está escuro em decorrência do declínio do sol. Estes pequeninos pontos escuros ao fundo são as persistentes gaivotas à espera da última canoa. “Logo eles chegarão para nos dar alguns peixinhos”, almejam. Ao fundo da cena encontra-se em contraluz a escultura dedicada à novela Mulheres de Areia.
A Praia dos pescadores ficou famosa por ter sido escolhida para as gravações da primeira versão da novela da Rede Globo Mulheres de Areia, que foi ao ar em 1973. As cenas eram filmadas, na sua grande maioria na Prainha, e o ator e escultor Serafim Gonzáles (1930-2007), natural de Santos (SP), era quem fazia as esculturas na areia antes das gravações. Muitos turistas que vinham a Itanhaém para acompanhar o ritmo das gravações e os bastidores da novela tiveram oportunidade de conhecer nossa cidade. (FERREIRA, 2008) Numa pedra, próximo ao Púlpito do Anchieta, encontra-se uma escultura em bronze, do mesmo escultor, eternizando o momento aqui na cidade.



Cai a tarde. Foto de Thais Oliveira Silva. 10. Dez. 2012




Registrei a escultura num dia nublado a fim de estudar a relação climática com o efeito que a mesma causa sob a imagem. A foto abaixo possui, devido ao clima, um toque nostálgico, onde as cores da cena também contribuem para esta minha impressão. Se fôssemos compará-la com a foto a qual foi tomada deste mesmo local, porém em condições climáticas bem diferentes, nesta, o sol estava nascendo envolto a diversas cores quentes, deixando a estátua e a Ilha das Cabras ao fundo enegrecidas. Nesta foto ocorre o inverso: o céu está praticamente sem cor, pálido e as figuras outrora em contraluz agora podemos observar seus detalhes. Abaixo da figura da mulher encontra-se uma placa de bronze onde está escrito a respeito da novela e agradecimentos à cidade por ter cedido tão belo local para as filmagens.


Sob uma tarde nublada. Foto de Thais Oliveira Silva. 18. Mar. 2012




No dia dez de Dezembro de 2011 registrei uma série que me foi extremamente decisiva para que a linguagem fotográfica se fortalecesse em mim. Após cento e cinquenta fotografias na passarela de Anchieta, um belo ponto turístico, voltei ao entardecer para a praia dos Pescadores, bairro onde minha avó sempre nos levava para nadar, por se tratar de uma baía e, portanto, de águas calmas. Hoje em dia posso estar fotografando ainda mais o local, em todas as horas do dia, acompanhando o percurso do Sol, pois é o bairro de meu namorado. Durante as férias estive registrando o local continuamente. Neste dia ao cair da tarde, eu havia decidido não fotografar mais. Fiquei na beira mar lendo, esperando que ele saísse do mar. Porém, o crepúsculo tomou toda a atenção do livro. Estava encantador, com poucas nuvens, conferindo ao céu e ao mar uma uniformidade fantástica ao cair da tarde com tons de violeta, amarelo, laranja e toda contraluz produzida por quem ou o quê ousasse estar na frente da belíssima iluminação do Rei-sol. Rapidamente larguei o livro e recomecei a fotografar, percebi que as melhores composições seriam as que eu tivesse que entrar na água, molhando pelo menos até o tornozelo, pois o mar naquela hora já estava recuando, não era necessário deslocar-se até o fundo. Lá, pude registrar belas composições, onde o mar, os últimos reflexos solares e os de luzes artificiais puderam contribuir para uma forma harmoniosa e repleta de significações.
 Percebi meu potencial para registrar a hora mágica, ou seja, o momento em que as cores ficam mais agradáveis, a saturação lindamente aumentada com os detalhes e texturas reveladas, formando sombras suaves. A luz neste período foi-se modificando a cada minuto, conferindo às minhas fotografias detalhes e composições únicas. Precisei ser rápida e atenta para registrá-las a tempo até que a noite chegasse.



O último a sair do mar. Foto de Thais Oliveira Silva. 10. Dez. 2011.




Finalizei a série registrando o momento em que o último surfista saia do mar. Aquele que em harmonia com a paisagem sempre deslumbrante compôs meu lugar ideal, aonde sempre irei para sonhar na certeza de vê-los realizados um a um.
Além da Praia dos Pescadores, outras praias de Itanhaém fizeram parte de minha poética pessoal.
A Praia da Saudade é uma estreita faixa praia de rio, no sopé do Morro do Sapucaetava. É uma praia de águas mansas, salgada ou doce conforme a maré entra ou sai da barra do rio, como observa Branco (2005), está em perfeita situação para pesca. Antigamente o caiçara armava a rede para encontrar o canal da barra e, nele, todos os peixes que entravam no estuário para desovar ou alimentar. Perto desta praia encontra-se um manguezal onde o caiçara até os dias de hoje, coleta caranguejos, ostras e crustáceos. Na Figura 147 temos a vista da Boca da Barra tomada da Praia da Saudade numa manhã ensolarada. Porém, como se anuncia ao fundo, com estas escuras e pesadas nuvens, esta tarde teve mais uma típica chuva de verão.



Praia da Saudade I. Foto de Thais Oliveira Silva. 29. Jan. 2012


Praia da Saudade II.  Foto de Thais Oliveira Silva. 23. Dez. 2012



A Figura 148 registra a vista do Centro da cidade tomada do local. No momento em que estou fotografando, mais um barco de pesca dirige-se ao alto mar. Na Figura 149 temos a imagem do pequeno manguezal do Sapucaetava.

 Manguezal do Morro Sapucaetava. Foto de Thais Oliveira Silva. 29. Jan. 2012





A praia dos Sonhos teve seu início de povoamento por volta de 1924, segundo Branco (2005). Em sua orla temos a presença de três prédios construídos durante as décadas de sessenta e setenta.
A praia de Peruíbe, com 24 quilômetros de extensão tem seu mar calmo, sem correntezas importantes, vai desde o Rio Itanhaém até o município de Peruíbe, desaguando nas águas do Rio Piaçanguera. De acordo com Branco (2005), existia uma comunidade caiçara no local denominado Camboriú, hoje Cibratel II. “Desta antiga comunidade itanhaense já não resta nenhum indício, a não ser a memória das pessoas mais idosas e os restos da antiga estação de trem” (BRANCO, 2005, p. 34)
Nas praias de Itanhaém, ainda conseguimos encontrar Jundu, um tipo de vegetação muito resistente à ação dos ventos e da salinidade (FERREIRA, 2008), elas são árvores pequenas, de troncos retorcidos e entrelaçados, possuindo folhas espessas e lustrosas.




 Jundu. Foto de Thais Oliveira Silva. 22. Jan. 2012



A palavra Jundu origina-se do tupi, que significa “mata ruim”. Sua importância reside no fato de que ele fixa as dunas de areia e apresenta plantas frutíferas como a maçãzinha-da-praia. Ela, portanto funciona como uma barreira natural auxiliando as dunas de areia a impedirem a invasão da maré e da ação dos ventos. Na Figura 150 as formações de Jundu encontram-se em primeiro plano, tendo ao fundo, o Morro do Sapucaetava envolta à brumas da maresia.
De acordo com Ferreira (2008), o mar do litoral sul é raso, com águas turvas, arrebentação constante e terra fina. Devido a extensão destas terras, os navegantes preferiam fazer suas viagens sempre beirando a costa, sem se afastar mais de 500 metros da praia.
Esta arrebentação constante é a marca principal do Praião localizados no final da faixa de areia que se estende do Boqueirão (Praia Grande) a Itanhaém, com seus ininterruptos quarenta quilômetros até desembocar no Rio Itanhaém que é denominada Praia Grande. Segundo as descrições de Branco (2005), é uma extensa praia de mar aberto, onde não existem baías, recôncavos, costões rochosos ou qualquer proteção contra o vento e as marés. 


Contemplação. Foto de Thais Oliveira Silva. 07. Abr. 2012


Esta praia, principalmente a praia do Tombo, localizada após o encontro do Mar com o Rio, é violenta, com grandes e assustadoras arrebentações. Porém, no dia 7 de Abril estava pacífica, distante, irreconhecível. Não me esquecerei, pois em toda minha vida nunca havia ido tão profundo em suas areias e agora lá estava eu, a registrando há uns trinta metros mar adentro, quando em condições normais a faixa de areia seca não passa de cinco metros.  Na foto acima temos a imagem de dois pescadores observando atentamente suas varas de pescar, fincadas nas areias e bem mais do que isto, acredito que também contemplam a maravilha de paisagem que se apresentava aos que estavam presente na Praia do Centro neste dia. Os belos reflexos do nascimento solar são refletidos em toda a praia tornando a imagem uma só, havendo a junção entre céu e terra.
Na imagem abaixo vemos uma cena nada cotidiana, pois normalmente de onde estou captando a orla do Praião as águas são profundas e agitadas, neste dia suas tranquilas águas formaram um belíssimo espelho d` água.

Uma manhã memorável. Foto de Thais Oliveira Silva. 07. Abr. 2012.


Praias de Itanhaém,
Magia de luz e cor,
Princesa dos mares do Sul
Devolve o meu amor

Há um ditado
Na minha terra
Amor de praia
Não sobe a serra,
É como a onda
Que beija a areia
Quando é noite
De lua cheia

A onda beija
E vai se embora,
A areia fica
Tão triste e chora
Eu já sabia
Linda criança
Que era tudo onda
Só ficou uma esperança.

(Antônio Bruno e Ernesto Zwarg. In: Itanhaém, um mar de histórias. Itanhaém: Expoente, 2008)

A Figura 153 mostra-nos uma sequência de pequenos quiosques e palmeiras onde estes apontam em direção ao mar, os quais são encontrados na Praia do Centro. A imagem foi tomada pela manhã, o que possibilitou a contraluz no primeiro plano sob um intenso azul encontrado tanto nos céus quanto no mar.


Só ficou a lembrança. Foto de Thais Oliveira Silva. 03. Jul. 2012





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