domingo, 16 de março de 2014

O Grande “Gnomo” da Juréia


Onde andará
O pequeno grande homem
Que defende a mata e os bichinhos?

Estará atrás das árvores
Ou nadando no Rio Preto
Conversando com as águas
Brincando com passarinho?

Todos o olham, poucos o vêm
Pois é preciso alma livre
Pra ver tão verde menino
Em seu nobre caminho

Não lhe falta a coragem
Pra enfrentar grandes batalhas
Está sempre atormentando
Aquele que lhe atrapalha

Amado pelas crianças
As grandes e as pequeninas
Tem nestas os seus amigos
Que não lhe negam abrigo

Gnomo franzino e forte
Não pense que está sozinho
Espalhados em outras matas
Existem muitos verdinhos

Cada um na sua floresta
Defendendo seu ideal
Sonhando um mundo melhor
O que não é utopia
Apenas tão natural

Protegida a Juréia
Ainda há muito que fazer
Pois na sua odisseia
Não é bom esmorecer

Vá em frente gnomo amigo
Não se importe com o inimigo
Está sempre em toda parte;
 A vida é sua arte!

Os golpes duros são provas
Da força mais que divina
É o vento forte no ramo
Que enverga, depois empina

Continue sua luta santa
Ela não será em vão
Cuide do corpo, morada da alma
Pra poder mostrar com calma
O que muitos inda verão...
Ao Ernesto Zwarg Júnior, De sua filha Maricéa

(Maricéa Zwarg. O gnomo da Juréia. In: Em Conceição de Itanhaém, tem! Itanhaém, 1999)

O amor pela natureza e a preservação dela sempre foi um das grandes lutas do itanhaense Ernesto Zwarg (1925 – 2009). O cheiro de mar, o seu som e a sua intensidade estão presentes nos nomes de todos os seus filhos que estão cheios de mar: Marcelo, Marati, Maricéia, Itamar e Márcio. (FERREIRA, 2008).
Ele foi pioneiro no Brasil e líder do Movimento que combate às usinas nucleares, sendo a primeira voz a se levantar em defesa da Juréia (Peruíbe – SP), obtendo o tombamento da Estação Ecológica Juréia-Itatins em julho de 1986. Se não fosse por ele e movimentos como o do SOS Mata Atlântica, uma das maiores áreas contínuas dos 7% da Mata Atlântica que ainda restam seriam abrigo de usinas nucleares. Percebendo que o projeto das usinas estava para se concretizar, realizou um Foro Ecológico nas Ruínas do Abarebebê, em Peruíbe. Muita gente compareceu inclusive autoridades nacionais e internacionais. O professor expôs os problemas que trariam as usinas e conseguiu impedir a construção delas pela Nuclebrás.
Lutador, não poupou esforços para defender a natureza e suas belezas não se de Itanhaém. Vestido de pirata, Zwarg alugou um barco e com autoridades e simpatizantes a bordo montou uma cena teatral conseguindo devolver as praias aos banhistas de Cananéia. Temos a grande luta de Zwarg na luta pela preservação do morro Sapucaetava e se não fosse por ele, a nossa Praia do Sonho estaria repleta de edifícios projetados sem rede de esgoto; é dele o mérito de ter ganhado a primeira ação popular do mundo contra prédios. (FERREIRA, 2008)
Ernesto é um andarilho por natureza, organizando caminhadas pela Juréia foi contagiando e despertando o amor pelo “chão” de muitas pessoas que se juntavam a ele – eram amigos, alunos, ex-alunos, curiosos, estudantes universitários e jornalistas. Zwarg nos orienta: “(...) sem paisagem, o homem é agredido. Todo ser humano sofre, sendo contido. Sofre claustrofobia, porque nasceu nômade, nasceu para ver horizontes, e não para viver preso em concreto. Sofre de stress, e não sabe que a sua origem está na privação da paisagem.” (FERREIRA, 2008, p. 115)
Como andarilho, vindo de cá para lá nas suas andanças era recebido com carinho pelo povo caiçara, povo simples e hospitaleiro. O comportamento afável e carinhoso até com os estranhos que são sempre bem recebidos nas casas caiçaras partilhando do que comer serviu de inspiração para que Zwarg criasse essa música:

(Indo a pé pra Iguape)
... nóis tamo indo pra Iguape,
nóis tamo indo a pé,
na casa do caiçara nóis vamo pedi café...
Pois é!

Lá no Grajaúna
Na ilha da Esperança
Na praia do Rio Verde
A maré tava baixando
Subindo - baixando
Subindo - baixando
Subindo – baixando

... nóis tamo indo pra Iguape,
(...)

Eu vou dançar fandango
Em Uma do prelado
Siri anda de costa
Ou será que anda de lado
De costa – de lado
De costa – de lado
De costa – de lado

...nóis tamo indo pra Iguape,
(...)

A beleza da Juréia
Há nada se compara
Vou descansar meu corpo
Na barra do Icapara
Anda – para
Anda – para
Anda – para
(...)

(Ernesto Zwarg. Indo pra Iguape. In: Itanhaém, um mar de Histórias. Itanhaém: Expoente, 2008)

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