domingo, 16 de março de 2014

Amazônia Paulista




Rio Itanhaém!
Nasceste da junção de dois rios
Branco e Preto.
Vieste vindo vagarosamente
complementando a beleza da natureza...
Enveredaste por caminhos da Mata Atlântica,
pelos mangues, num sem fim de águas... natural
desta terra secular!
Levas a alegria, a recreação e o alimento
por onde passas...
És a beleza e o orgulho
desta terra bendita
pois, dela herdaste o nome!
 (Cely Aparecida Faria Spina. Rio Itanhaém. In: Itanhaém, beleza em prosa e verso. Itanhaém, 1997)

            A Baia do Rio Ribeira de Iguape e o Litoral Sul compõem a região dos Estados de São Paulo e Paraná mais privilegiada pelas belezas que a natureza pode oferecer. (FERREIRA, 2008)
            Ao redor da nossa cidade há uma vasta porção de Mata Atlântica que pode ser vista por terra e água. São cerca de 2000 km de rios (entre navegáveis, não navegáveis) Os rios que nascem na serra vão “correndo” com velocidade percorrendo caminhos de pedras. São borbulhantes e barulhentos e às vezes formam cachoeiras e quedas, mas quando chegam à baixada, os rios ficam silenciosos. Vão deslizando devagarinho pelo meio da mata e a transformação acontece também com sua cor – é mais escura por causa da grande quantidade de matéria vegetal que se decompõe na água, por isso o fundo dos rios pode ser lodoso.

            Itanhaém antigamente era praticamente uma população ribeirinha. O Rio sempre foi seu principal veículo. Pelas duas margens do rio: Suarão, a Vila, O Bairro do Poço, Camboriú, O Bairro do Rio Acima, essa gente vinha para as festas da “Vila” com suas embarcações chegando a cidade no raiar do dia. Todas as famílias tinham as suas canoas naquele tempo. (FERREIRA, 2008)


 Rio Branco. Foto de Thais Oliveira Silva. 12. Jan. 2012

            O Rio Branco é um dos afluentes principais do Rio Itanhaém. Ele também é nosso responsável pelo abastecimento de água potável para a cidade. Branco (2005) nos descreve o Rio Branco com suas águas claras, pois descem das cachoeiras da Serra do Mar, onde nosso município faz divisa com São Paulo e São Vicente, margeando a aldeia dos índios Guarani. O Rio Branco é um dos principais formadores do Rio Itanhaém. Ele banha terras agrícolas produtoras de banana onde antes imperavam os arrozais japoneses. De acordo com Branco (2005), os mais antigos contam que este é um rio de poços profundos onde se escondem os grandes robalos. “Quando o caiçara abandonou a linha da praia pela pressão imobiliária foi se refugiar nessas terras, vivendo em sítios de encosta, trabalhando de assalariado agrícola, cultivando de tudo um pouco.” (BRANCO, 2005, p.81) A foto acima é uma tomada do Rio Branco quando este passa pela Fazenda Mambu, a qual ao ser redor possui uma bela porção da Mata Atlântica preservada, surpreendente em cada detalhe. Num dia de céu límpido pude fotografá-lo e eternizar seu belo espelho d`água que tenho guardado em minha mente desde a infância, quando íamos aos sítios próximos à Fazenda Mambu visitar amigos. Suas límpidas e gélidas águas, sempre puras e frescas jamais sairão de minhas lembranças.
            Já o Rio Preto, outro afluente do Rio Itanhaém nasce na região das lamas negras cujos componentes orgânicos são hidratantes naturais. Suas águas são as responsáveis pelo tom cinzento do mar de Itanhaém quando baixa a maré. A foto abaixo mostra-nos uma porção do Rio em contato com a grande floresta retorcida, os manguezais, os quais proporcionam a diversidade e riqueza biológica lá existente. A ondulação das águas captado nesta imagem é devido aos motores dos dois barcos que participaram da procissão pelo rio rumo ao bairro do Rio Acima, para celebrar a Festa do Divino.
            Em contato com o mar e localizadas onde o rio se expande encontramos nosso manguezal com suas águas salobras que é inundada pela maré duas vezes ao dia. Neste local se desenvolve uma vegetação típica do litoral: são bosques de árvores retorcidas que crescem em terreno de solo negro e lamacento.


Floresta Retorcida. Foto de Thais Oliveira Silva. 06. Mai. 2012



Rio Preto. Foto de Thais Oliveira Silva. 06. Mai. 2012

            Já o Rio Itanhaém, formado pelo encontro do Rio Preto e Rio Branco, atravessa a cidade e seu maior atrativo é o encontro das águas com o mar, que chamamos “Boca da Barra”. No local há duas esculturas representando dois pescadores locais já falecidos, os quais estão representando suas antigas atividades: um está numa canoa e o outro, segurando sua rede artesanal. Ambos foram esculpidos por Ronaldo Lopes (1953), artista plástico local.
            O pescador representado na canoa chamava-se Paulo Leandro de Lima (1915 – 2001), mas era conhecido por seu apelido “Pica-pau”. Natural de Iguape buscou seu sustento e o de sua família nas águas do Rio Itanhaém, em sua piroga (pequena canoa de origem indígena) através da pesca artesanal com suas redes e cercos através do Rio.
            Busquei na foto abaixo representar o momento decisivo de um pescador artesanal: a alvorada, aonde este vai ao encontro de seu grande provedor: o Rio. Os tons dourados do nascer do sol neste instante proporcionou a imagem um toque etéreo, onde o Rio e Céu fundem-se, comungam da mesma riqueza de cores e luzes. O fotógrafo português João Evangelista, a respeito desta imagem declara:

Com o enquadramento mais fechado, o olhar se concentra naturalmente mais sobre a figura do homem!...E como na foto anterior o facto de ele navegar em terra deu um toque especial à sua foto!...Bem visto a integração da estátua na paisagem circundante, pois muitos teriam captado só a escultura como sendo uma curiosidade local!!!!!...Uma simples atracção turística!!!....A palmeira e a colina no lado oposto fecham visualmente a foto o que ajuda a concentrar melhor o olhar do observador na área de mais interesse da imagem!!!

Aqui também você soube captar a transição entre o mundo das sombras e o mundo da luz, com o espelho do rio como que fazendo a ligação entre os dois!!!!

Bem visto e parabéns Thais!!!
PEREIRA, João Evangelista Dos Santos. JEvangelista. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por < jespcl3@yahoo.fr> em 30. Jun. 2012.




                Amanhecer sob a Boca da Barra. Foto de Thais Oliveira Silva.01. Abr. 2012

                   Na foto abaixo, busquei concretizar algo que eu havia tentado diversas vezes quando iniciei minha poética visual, em Dezembro de 2011: captar a estátua do “Pica-pau” com o rio ao fundo, de modo que desse a impressão de que a mesma estivesse sob as águas do rio, rumo ao Rio Itanhaém. Porém, apenas em Julho de 2012 obtive uma imagem satisfatória a mim, pois neste dia, além da experiência adquirida nestes meses percorridos, também me foi favorável à condição climática deste dia, um belíssimo tom de azul tomou conta de nosso céu, de nossas águas. Infelizmente o que vemos nesta estátua não é nada admirável: se repararmos atentamente nas mãos dele, nós percebemos que está faltando seus dedos, obra de algum vândalo.
            Ao conversar com o escultor local, Ronaldo Lopes (1953-), percebi sua tristeza ao mencionar o fato da depredação de suas obras. Esta estátua que vemos é a segunda produção do artista, já que a primeira encontra-se em seu atelier, destruída por baderneiros que, provavelmente acreditaram que eram feiras de bronze puro e quiseram vender suas partes, porém, ao questionar o artista sobre seu processo de criação, suas estátuas têm estruturas de ferro, e são de resina, pontadas posteriormente de tinta spray bronzeadas. Não há nada do tão desejado bronze, metal que se cair em certas mãos apenas será vendido em ferros velhos, sem a simples reflexão da validade da obra artística para a população em geral. É necessária a difusão da Educação Patrimonial, o sentido de pertencimento à sociedade, o interesse e reconhecimento pela nossa cultura. Quando isto acontecer não haverá mais tanto desrespeito e desconhecimento por suas origens.
            Na imagem abaixo, temos outra escultura de Ronaldo Lopes, a qual foi depredada também em suas mãos, as quais estão segurando, desde então precariamente, sua rede artesanal.
            A escultura representa o antigo pescador artesanal José Rodrigues (1914 – 2002), conhecido como Zeca Poitena. Registrei a Figura 85 a manhã de um dia ensolarado. As sombras alongadas á direita indicam que o sol ainda está levantando-se, proporcionando a cena luzes pontuadas, onde, entre outros elementos da cena, as pernas da escultura neste momento estão recebendo mais luz do que seu tronco e membros superiores. Assim como o pescador “Pica-pau”, Zeca Poitena também levava sua vida em harmonia com este local, como todo caiçara possuía sua pele retorcida pelo sol, pela maresia do ar e da água, tendo infinita sabedoria caiçara, a qual permitia a estes homens simples conhecerem tão bem nossas águas, analisar as condições de pesca através das fases lunares, do movimento das nuvens, dos pássaros e da ressaca do mar.





Navegando Eternamente. Foto de Thais Oliveira Silva. 19. Jul. 2012



                                   Navegando Eternamente. Foto de Thais Oliveira Silva. 19. Jul. 2012




                            O Rio lhes dava seu suprimento. Foto de Thais Oliveira Silva. 01. Abr. 2012

            Quando desenvolvemos harmonia com o local em que vivemos, elevamo-nos, tornamo-nos melhores do que éramos ou podíamos ser, a natureza é sábia, se dermos atenção a ela, sempre teremos valiosíssimas lições a tirar.
Minha grande paixão sempre foi observar o espelho d` água, meu querido Rio Itanhaém é um grande prazer, sentir a mudança do céu, acinzentado em dias nublados e chuvosos, e saborear o intenso azul de um céu límpido. Tudo sempre refletido em nossas águas.
Em Janeiro de 2012, observei o quanto as águas do Rio Itanhaém estavam tranquilas, suaves, por este motivo, pude registrar no dia três deste mês, a imagem da Figura 86, a qual só se é possível tão espelho d`água quando as águas estão estáticas, como estavam neste dia. Seu percurso entre o mangue é de perder de vista. A captação foi tomada do alto da ponte da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega.


Espelho d`água. Foto de Thais Oliveira Silva. 03. Jan. 2011.     

            Já a Figura 87 tem a imagem das águas turbulentas devido à aproximação do mar, pois estamos na Boca da Barra, centro de Itanhaém, encontros das águas doces e salgadas, e também pela ondulação causada por esta embarcação que está rumando ao mar pela manhã, movimento este seguido por inúmeras embarcações, a motor ou não ao mar pela manhã, em que pude observar durante meus trilhares.

Aqui funciona bem este tipo de enquadramento, com o barco bem no centro como que para servir de ponto de apoio a quem fica estonteado com esta inclinação!       
Bem visto Thais e navegando tão perto da praia, parece que o barco está navegando na fronteira entre o mundo terreno sempre imóvel e estático e o mundo espiritual representado pela água em constante movimento e cujos reflexos são tão efémeros como um piscar de olhos!...São sempre diferentes e por isso acaba por acontecer muitos mais que na paisagem lá ao fundo!...Basta ficar olhando!       
Parabéns Thais!!!
(IPEREIRA, João Evangelista Dos Santos. JEvangelista. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por < jespcl3@yahoo.fr> em: 12. Abr. 2012)

Um comentário:

  1. bela descrição da história de Itanhaém, parabéns Thaís! Pena que seu blog não está "na ativa" ou me parece!

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