domingo, 16 de março de 2014

Matriz de Santana




Minha terra estacou entre os homens e Deus...
foi daqui que saiu a primeira bandeira do Sonho
nos primeiros clarões do dealbar da História...
Foi daqui que partiu a Esperança sorrindo
na doce inspiração que enriquece o planalto...
aqui as gerações se esmeram na Arte
-a pintura, a poesia, a música bendita...
sentimento que vem como um sopro divino
e depois lá se vai, em perfume, no alto...
(...)
Minha Itanhaém é um poema em notas musicais
cantando a imensidão, magnífica, do mar
declarando a amplidão, beatífica do azul;
desfolhando a ilusão de uma flor venturosa...
(...)
Minha terra ao gemer dos sinos à tardinha
é a mais doce emoção que de Deus se avizinha.

 (Nilo Soares Ferreira. Minha terra. In: Poesias e trovas de Itanhaém. Itanhaém, 1999)

            Os sinos da Igreja Matriz de Santana inspiraram o Poeta Nilo Soares Ferreira a escreverem este belo verso final do poema encontrado na epígrafe do capítulo. Estes sinos que guiavam a pacata Vila de Itanhaém, sendo tocado diversas vezes por dia pelos garotos que auxiliavam na igreja.
Quando eu era criança lembro-me de ter ouvido muitas vezes os sinos da Igreja Matriz. Hoje em dia não sei se o tocam, eu nunca mais pude ouvi-los. Os sinos do Convento que sempre desejei ouvir. Seus saudosos sinos que chamavam outrora tantas gerações para virem à missa. É belo observá-lo, uma imponente construção barroca sob um monte, tocando o céu, é até difícil encontrar palavras para descrever a emoção de vê-lo. Ao conversar com os antigos itanhaenses é unânime o sentimento de nostalgia que estas construções guardam. Tantas histórias, tantas lembranças. Suas vidas eram pautadas por estes lugares. Há pouco tempo nossa terra perdeu a hegemonia católica, pouquíssimas décadas. Itanhaém, a cidade das duas Igrejas, a do alto do morro dedicada à Virgem Mãe de Deus e a de baixo, com um forte simbolismo representando sua devoção e humildade ante o chamado de sua filha, Maria, consagrada à Santana, sua mãe biológica.
            A Igreja Matriz de Santana foi construída no século XVIII, época em que éramos cabeça de Capitania (1642-1679). A fotografia abaixo retrata a porta lateral da Igreja, a qual ainda mantém suas características iniciais. Vemos o quanto suas grossas paredes foram resistentes ao teste do tempo.
A Igreja estava efetivamente em obras no segundo decênio do século XVIII, momento em que recebe da Fazenda Real, por três anos, "cem mil réis cada ano, para a obra da capela-mor da Igreja da Vila de Conceição".  Como a coroa portuguesa dedicava atenção especial ao templo religioso, enviando recursos financeiros todos os anos.

A Igreja é inaugurada em 1761, Porém, a cidade vai progressivamente caindo em decadência, pois há um grande êxodo em direção á Minas Gerais, devido à descoberta do ouro no local e sem os recursos portugueses, Itanhaém passou por tempos difíceis e não pode cuidar da igreja, a qual passou por anos em estado de deterioração, em função disso acabou mais tarde sendo tombada como Patrimônio Histórico, recebendo desde então reformas pontuadas no decorrer dos anos. (FERREIRA, 2008) Devido a este motivo, paulatinamente as missas e celebrações que lá haviam foram transferidas á Igreja Nossa Senhora da Conceição, construída há pouco tempo, tendo sua pedra fundamental lançada em 23 de Junho de 2002. 


Passagem Secular. Foto de Thais Oliveira Silva.06. Mai. 2012




Quem vencerá? A Fé ou os Cupins? Foto de Thais Oliveira Silva 12. Dez. 2011


Na foto acima enfoquei a ação dos cupins sobre a madeira do assoalho da Igreja. Alguns meses depois, felizmente, ao retornar ao local e encontrar uma tábua nova posta sob esta deteriorada. Esta que durante gerações passaram inúmeros fiéis sobre ela. Um local cheio de lembranças. Portador de certa nostalgia, em que nas manhãs de domingo, quando ocorrem as missas matinais e no mês de Maio, com as celebrações do Divino, a memória é revivida. A nave da Igreja é mais uma vez ocupada. 



Conceição de Itanhaém sob a Redoma de Vidro. Foto de Thais Oliveira Silva. 12. Dez. 2012


A igreja Matriz de Santana abriga uma das mais importantes imagens sacras brasileiras: a de Nossa Senhora da Conceição, feita de cerâmica há mais de 400 anos. Sua origem ainda causa polemica entre muitos especialistas que a estudaram. Para alguns, a imagem foi trazida de Portugal por Martim Afonso de Souza, para outros estudiosos ela foi obra de um ceramista nativo, em que não temos dados precisos de seu nascimento e morte, João Gonçalves Viana. (FERREIRA, 2008)
Vemos na foto acima, a imagem no fundo da Igreja Matriz sob uma proteção de vidro. Tal interferência resultou nesta imagem com o reflexo do forro da nave da Igreja sob Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém.



Eternamente Barroca. Foto de Thais Oliveira Silva.27. Dez. 2011

O altar barroco, com suas infinitas volutas, ornamentos sinuosos e anjinhos talhados na madeira foi o foco da imagem acima, onde nesta composição está em primeiro plano e, ao fundo, a imagem de São José.
            A Igreja Matriz de Santana, ao contrário do Convento é um local sempre visitado, mantendo as portas abertas durante o dia já que está localizada na Praça Central da cidade, Narciso de Andrade. Deste modo, tenho muito mais registros dela do que do Convento e neste local, quando o captei, foram registradas também muitas pessoas, transeuntes ou trabalhadores, varredores de rua próximos a ela. 



Anchieta e Itanhaém. Foto de Thais Oliveira Silva. 07. Abr. 2012

            Na imagem acima, busquei compor a relação do beato Padre José de Anchieta (1534 – 1597) com Itanhaém, o qual passou diversas vezes por estas terras, catequizando os índios. Focalizei em primeiro plano a escultura do Padre Anchieta, esculpida por Luiz Morrone (1906- 1998),tendo a Igreja Matriz em segundo  plano.
            Minhas imagens focaram registrar, principalmente a Igreja Matriz ressaltando seu tamanho que impressiona sobremaneira. Ela é majestosa, imponente, destacando-se na Praça central. Busquei registrá-la em diversas condições climáticas para também absorver sua “mudança de personalidade”, termo utilizado por Hedgecoe (1996).
Hedgecoe (1996) nos fala sobre trabalharmos nas variações sobre uma fachada, nos aconselhando a não ficarmos satisfeitos enquanto um determinado tema só tiver sido fotografado de um único ângulo de enquadramento, pois os edifícios, como qualquer outro tema, possui personalidade e uma atmosfera que dependem do modo como forem fotografados. Intuitivamente, bem antes de ler a respeito, busquei registrar de várias tomadas diversos lugares que me foram durante a infância e ainda são muito significativos a mim. A Igreja Matriz de Santana, localizada na Praça Narciso de Andrade, centro de Itanhaém, foi a que recebeu mais registrou meus, onde a enfoquei durante diversas condições climáticas e em inúmeros ângulos.



Matriz de Santana vista sob um dia ensolarado. Foto de Thais Oliveira Silva. 04. Mar. 2012

Nesta imagem, vali-me do sol de meio dia a fim de criar estes belos contornos de sombras na fachada da Igreja Matriz. O céu está limpo, com pouquíssimas nuvens, proporcionando à imagem uma bela claridade. À sombra de uma árvore em frente à Igreja, dois moradores descansam durante seu horário de almoço.
Na foto abaixo, temos a imagem do calçadão úmido decorrente da forte chuva da noite anterior, proporcionando um belíssimo reflexo à Igreja e demais elementos da composição. O céu desta imagem é claro, um tipo de nublado condensado, não há nuvens ameaçadoras de tempestades, mas ainda persiste uma garoa finíssima neste momento da captação. A inclusão do arvoredo á direita da imagem contribui ainda mais para o ar soturno. A condição climática proporcionou à imagem um ar lúgubre, sombrio, com os reflexos, diria que até fantasmagóricos refletidos no calçadão da Praça Narciso de Andrade, Centro de Itanhaém.
Nestes dois exemplos podemos ver o quanto as condições climáticas interferem em nossa leitura da imagem. Ambas foram focadas de um mesmo ponto, com deslocamento de apenas dois passos para a fotografia anterior, mas são diferentes. Em meu percurso modifiquei não apenas no quesito dos estados em que se encontrava o tempo, mas a presença de pessoas, as diversas tomadas de infinitos ângulos para então ter uma nova imagem, uma nova leitura do local.


 Matriz de Santana vista sob a fina garoa. Foto de Thais Oliveira Silva. 16. Mar. 2012




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