Minha terra estacou
entre os homens e Deus...
foi daqui que saiu a
primeira bandeira do Sonho
nos primeiros clarões
do dealbar da História...
Foi daqui que partiu
a Esperança sorrindo
na doce inspiração
que enriquece o planalto...
aqui as gerações se
esmeram na Arte
-a pintura, a poesia,
a música bendita...
sentimento que vem
como um sopro divino
e depois lá se vai,
em perfume, no alto...
(...)
Minha Itanhaém é um
poema em notas musicais
cantando a imensidão,
magnífica, do mar
declarando a
amplidão, beatífica do azul;
desfolhando a ilusão
de uma flor venturosa...
(...)
Minha terra ao gemer
dos sinos à tardinha
é a mais doce emoção
que de Deus se avizinha.
(Nilo Soares Ferreira. Minha terra. In: Poesias e trovas de Itanhaém. Itanhaém,
1999)
Os sinos da Igreja Matriz de Santana
inspiraram o Poeta Nilo Soares Ferreira a escreverem este belo verso final do
poema encontrado na epígrafe do capítulo. Estes sinos que guiavam a pacata Vila
de Itanhaém, sendo tocado diversas vezes por dia pelos garotos que auxiliavam
na igreja.
Quando
eu era criança lembro-me de ter ouvido muitas vezes os sinos da Igreja Matriz.
Hoje em dia não sei se o tocam, eu nunca mais pude ouvi-los. Os sinos do
Convento que sempre desejei ouvir. Seus saudosos sinos que chamavam outrora
tantas gerações para virem à missa. É belo observá-lo, uma imponente construção
barroca sob um monte, tocando o céu, é até difícil encontrar palavras para
descrever a emoção de vê-lo. Ao conversar com os antigos itanhaenses é unânime
o sentimento de nostalgia que estas construções guardam. Tantas histórias,
tantas lembranças. Suas vidas eram pautadas por estes lugares. Há pouco tempo
nossa terra perdeu a hegemonia católica, pouquíssimas décadas. Itanhaém, a
cidade das duas Igrejas, a do alto do morro dedicada à Virgem Mãe de Deus e a
de baixo, com um forte simbolismo representando sua devoção e humildade ante o
chamado de sua filha, Maria, consagrada à Santana, sua mãe biológica.
A Igreja Matriz de
Santana foi construída no século XVIII, época em que éramos cabeça de Capitania
(1642-1679). A fotografia abaixo retrata a porta lateral da Igreja, a qual
ainda mantém suas características iniciais. Vemos o quanto suas grossas paredes
foram resistentes ao teste do tempo.
A Igreja estava
efetivamente em obras no segundo decênio do século XVIII, momento em que recebe
da Fazenda Real, por três anos, "cem mil réis cada ano, para a obra da
capela-mor da Igreja da Vila de Conceição". Como a coroa portuguesa dedicava atenção
especial ao templo religioso, enviando recursos financeiros todos os anos.
A Igreja é inaugurada em 1761, Porém, a cidade vai
progressivamente caindo em decadência, pois há um grande êxodo em direção á
Minas Gerais, devido à descoberta do ouro no local e sem os recursos
portugueses, Itanhaém passou por tempos difíceis e não pode cuidar da igreja, a
qual passou por anos em estado de deterioração, em função disso acabou mais
tarde sendo tombada como Patrimônio Histórico, recebendo desde então reformas
pontuadas no decorrer dos anos. (FERREIRA, 2008) Devido a este motivo,
paulatinamente as missas e celebrações que lá haviam foram transferidas á
Igreja Nossa Senhora da Conceição, construída há pouco tempo, tendo sua pedra
fundamental lançada em 23 de Junho de 2002.
Passagem Secular. Foto de Thais Oliveira Silva.06. Mai. 2012
Quem vencerá? A Fé ou os Cupins? Foto de Thais Oliveira Silva 12. Dez. 2011
Na foto acima enfoquei
a ação dos cupins sobre a madeira do assoalho da Igreja. Alguns meses depois,
felizmente, ao retornar ao local e encontrar uma tábua nova posta sob esta
deteriorada. Esta que durante gerações passaram inúmeros fiéis sobre ela. Um
local cheio de lembranças. Portador de certa nostalgia, em que nas manhãs de
domingo, quando ocorrem as missas matinais e no mês de Maio, com as celebrações
do Divino, a memória é revivida. A nave da Igreja é mais uma vez ocupada.
Conceição de Itanhaém sob a Redoma de Vidro. Foto de Thais Oliveira Silva. 12. Dez. 2012
A igreja Matriz de Santana abriga uma das mais
importantes imagens sacras brasileiras: a de Nossa Senhora da Conceição, feita
de cerâmica há mais de 400 anos. Sua origem ainda causa polemica entre muitos
especialistas que a estudaram. Para alguns, a imagem foi trazida de Portugal
por Martim Afonso de Souza, para outros estudiosos ela foi obra de um ceramista
nativo, em que não temos dados precisos de seu nascimento e morte, João
Gonçalves Viana. (FERREIRA, 2008)
Vemos na foto acima, a imagem no fundo da Igreja
Matriz sob uma proteção de vidro. Tal interferência resultou nesta imagem com o
reflexo do forro da nave da Igreja sob Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém.
Eternamente Barroca. Foto de Thais Oliveira Silva.27. Dez. 2011
O altar barroco, com suas infinitas volutas, ornamentos
sinuosos e anjinhos talhados na madeira foi o foco da imagem acima, onde
nesta composição está em primeiro plano e, ao fundo, a imagem de São José.
A Igreja Matriz de Santana, ao
contrário do Convento é um local sempre visitado, mantendo as portas abertas
durante o dia já que está localizada na Praça Central da cidade, Narciso de
Andrade. Deste modo, tenho muito mais registros dela do que do Convento e neste
local, quando o captei, foram registradas também muitas pessoas, transeuntes ou
trabalhadores, varredores de rua próximos a ela.
Anchieta e Itanhaém.
Foto de Thais Oliveira Silva. 07. Abr. 2012
Na imagem acima, busquei compor a
relação do beato Padre José de Anchieta (1534 – 1597) com Itanhaém, o qual
passou diversas vezes por estas terras, catequizando os índios. Focalizei em
primeiro plano a escultura do Padre Anchieta, esculpida por Luiz Morrone (1906-
1998),tendo a Igreja Matriz em segundo plano.
Minhas imagens focaram registrar,
principalmente a Igreja Matriz ressaltando seu tamanho que impressiona
sobremaneira. Ela é majestosa, imponente, destacando-se na Praça central.
Busquei registrá-la em diversas condições climáticas para também absorver sua
“mudança de personalidade”, termo utilizado por Hedgecoe (1996).
Hedgecoe (1996) nos fala sobre trabalharmos nas
variações sobre uma fachada, nos aconselhando a não ficarmos satisfeitos
enquanto um determinado tema só tiver sido fotografado de um único ângulo de
enquadramento, pois os edifícios, como qualquer outro tema, possui personalidade
e uma atmosfera que dependem do modo como forem fotografados. Intuitivamente,
bem antes de ler a respeito, busquei registrar de várias tomadas diversos
lugares que me foram durante a infância e ainda são muito significativos a mim.
A Igreja Matriz de Santana, localizada na Praça Narciso de Andrade, centro de
Itanhaém, foi a que recebeu mais registrou meus, onde a enfoquei durante
diversas condições climáticas e em inúmeros ângulos.
Matriz de Santana vista sob um dia ensolarado. Foto de Thais
Oliveira Silva. 04. Mar. 2012
Nesta
imagem, vali-me do sol de meio dia a fim de criar estes belos
contornos de sombras na fachada da Igreja Matriz. O céu está limpo, com
pouquíssimas nuvens, proporcionando à imagem uma bela claridade. À sombra de
uma árvore em frente à Igreja, dois moradores descansam durante seu horário de
almoço.
Na
foto abaixo, temos a imagem do calçadão úmido decorrente da forte chuva da noite
anterior, proporcionando um belíssimo reflexo à Igreja e demais elementos da composição.
O céu desta imagem é claro, um tipo de nublado condensado, não há nuvens
ameaçadoras de tempestades, mas ainda persiste uma garoa finíssima neste
momento da captação. A inclusão do arvoredo á direita da imagem contribui ainda
mais para o ar soturno. A condição climática proporcionou à imagem um ar
lúgubre, sombrio, com os reflexos, diria que até fantasmagóricos refletidos no
calçadão da Praça Narciso de Andrade, Centro de Itanhaém.
Nestes
dois exemplos podemos ver o quanto as condições climáticas interferem em nossa
leitura da imagem. Ambas foram focadas de um mesmo ponto, com deslocamento de
apenas dois passos para a fotografia anterior, mas são diferentes. Em meu percurso
modifiquei não apenas no quesito dos estados em que se encontrava o tempo, mas
a presença de pessoas, as diversas tomadas de infinitos ângulos para então ter
uma nova imagem, uma nova leitura do local.
Matriz de Santana vista sob
a fina garoa. Foto de Thais Oliveira Silva. 16. Mar. 2012
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