sábado, 22 de março de 2014

Ascensão e queda do rei sol


           

Itanhaém,
O mais caiçara dos sóis,
sempre te contemplo de madrugada,
lá nas pedras da praia do sonho,
sinto que Deus, me deu a paz de presente.
Juro que essas pedras cantam vida
e que as estrelas do seu céu
são mais brilhantes
e as do mar, são coloridas.
Quando a gente te fita
e te vê assim tão bonita,
guarda no íntimo seu semblante atraente, pra sempre.
No pôr-do-sol dos seus rios,
vejo a alma dos teus filhos,
versando que Deus,
em sua homenagem,
vinte e quatro horas por dia
usa pincéis de trovador.

(Cecília Fidelli. Juras de amor. In: Itanhaém em prosa e verso. Itanhaém, 1998)
Infelizmente nem todos tem esta rica oportunidade de ver o nascimento do sol em algum lugar aberto, especialmente na praia, onde nada atrapalha a visão do percurso sutil e arrebatador do maravilhoso astro que nos dá vida. Ousei durante algumas madrugadas quentes, aventurar-me para ver o nascimento do sol não apenas da janela de meu quarto, mas em seu principal palco: o mar, onde este pode brilhar, atua brilhantemente em cada ato de seu espetáculo, modificando sua luz como se fosse um verdadeiro ator alternando suas vestimentas. São totalmente maravilhoso estes poucos minutos da hora mágica. A cada instante temos uma cor nova mostrando-se a nós, de violeta passa-se a vermelho intenso, alaranjado, amarelo ouro até que finalmente sua luz fique branca durante todo o dia até finalmente iniciar seu espetáculo da queda, onde mais uma vez há profusões de cores para enfim mais uma noite nos visitar enquanto o valoroso e destemido Rei Sol, como descrito nos mitos egípcios, desce às terras sombrias com sua barca, falece, mas sempre retorna vitorioso a cada manhã. (GOMBRICH, 1999)

Nas primeiras horas de luz, o sol brilha obliquamente sobre a terra e os raios de luz, viajam através de um grande volume de atmosfera para alcançar sua posição. São os comprimentos de onda de luz azul, mais curtos, que se dispersam mais facilmente e são filtrados durante este trajeto; assim, a luz em volta do sol nascente é frequentemente tingida por um delicado vermelho rosado. A neblina também é comum ao amanhecer, convertendo cenas e aspectos familiares em visões de sonho. (HEDGECOE, 1996, p. 39)


A imagem abaixo mostra uma de suas muitas facetas, onde este se mostra intensamente rubro. Certamente que a imagem da obra de Monet (1840-1926) estava em minha mente ao compor esta cena. Este vermelho não durou pouco mais que três minutos, tive de ser ágil para registrá-lo. A imagem foi realizada na Boca da Barra e felizmente neste dia a maré estava baixa, possibilitando-me registrar a cena da praia do local, a fim de incorporar também o reflexo do sol em suas águas. Ao fundo, em contra luz encontra-se o centro da cidade.


Incandescente nascimento. Foto de Thais Oliveira Silva. 07. Abr. 2012.



Para esta série fotográfica é oportuno citar Martins (2008), quando este fala sobre a obra “Impressão do nascer do sol”, de Monet, já que busquei, como o pintor, registrar a luz solar em diversas horas do dia sob inúmeras condições climáticas:

Há nas imagens dessa composição um cromatismo temperado, criado pelo reflexo da luz nas horas suaves de transição entre o noite e dia e dia e noite, que são também as melhores horas para fotografar. Nestes momentos de encontro de luminosidades contrárias, Monet incorpora à sua pintura a descoberta da supressão dos limites de separação visual entre o dado “verdadeiro” e o “falso”, produzido pela composição resultante da impressão visual. Em “Impressão do nascer do sol”, o reflexo da luminosidade rubra faz do sol um complemento, mais do que o centro da pintura. Mas um complemento necessário. Há entre o sol, seu reflexo na água e o reflexo do reflexo nas nuvens uma relação de necessidade recíproca, uma multiplicação de luminosidade e de escritas visuais que não se esgotam. Antes, apontam para uma espécie de efeito multiplicador da luz e seus desdobramentos, além do quadro, de que a pintura é o recorte de um momento que não anula essa vibração cromática. (MARTINS, 2008, p. 151)
As manhãs sempre me favoreceram na concepção destas imagens. Poucas fotografias foram realizadas durante o horário vespertino, já que muitas vezes as nuvens encobriam o sol.


Sutilezas do amanhecer. Foto de Thais Oliveira Silva. 03. Mar. 2012.




A foto acima foi obtida durante uma fria manhã de março. Os tons rosa e violeta desta imagem foram registrados em tempo oportuno, já que os mesmos duraram pouquíssimos instantes, transmutando-se para outras cores. A figura que está em contraluz nesta imagem é a escultura de Serafim Gonzalez (1930-2007), primeiro ator a interpretar o personagem “Tonho da lua” da novela global Mulheres de areia, exibida durante a década de setenta. Como a novela foi ambientada na Praia dos Pescadores daqui da cidade, após as gravações foi-se estabelecido este memorial de bronze nas rochas encontradas na Praia dos Pescadores.
A imagem abaixo foi tomada do alto da Ponte Sertório ao amanhecer. O nascimento do Sol foi extremamente encantador neste dia, o qual eu não tenho palavras para descrever qual foi minha reação ao avistar nos céus estes dois imensos braços etéreos, os quais um sinalizava uma espécie de “hang loose”, cumprimento típico entre os surfistas e o outro braço parecia estar amparando o morro. O Sol atrás destas formas encontra-se imenso, poderoso, com seu reflexo sobre a Boca da Barra. A cidade ainda não acordou em sua maioria.


Braços Etéreos. Foto de Thais Oliveira Silva. 01. Abr. 2012



Também tenho minha luz. Foto de Thais Oliveira Silva. 20. Abr. 2012



Encontrei-me com este simpático pescador durante uma alvorada. Nesta manhã tanto o Céu quanto o Rio tingiram-se de vermelho. Nuvens rosadas e acinzentadas pousavam sobre eles. Uma profusão de cores num único dia. Cores, mas ainda uma fraca luz clareava nosso caminho. O sol estava prestes a incidir sobre nós sua potente luz, mas, enquanto nós esperávamos o raiar do sol, este simples pescador que vemos em contraluz nesta imagem liga sua pequena lanterna mostrando-nos como enfrentou aquela noite escura. Logo não será mais necessária esta luz artificial, tão ingênua e pequena ante a potência da luz solar.



Amanhecer na Praia dos Pescadores I. Foto de Thais oliveira Silva. 02. Mar. 2012



Outra manhã se inicia, porém tive de ser muito rápida, pois em poucos minutos eu estaria numa sala de aula, lecionando. Registrei o nascer do sol sob a Praia dos Pescadores a fim de enfatizar a beleza do local. Percebo que uma paisagem assim inclinada, através de suas formas e linhas nós podemos ver mais além que se fosse uma composição horizontal. A paisagem que é belíssima passa a ter uma dimensão abstrata que a valoriza ainda mais com esta composição. Se fosse à horizontal nem íamos reparar na força destas linhas de tão "adormecidos" que estamos de ver tantos nascer-do-sol sempre todos iguais. Pretendi com esta série efetuada neste dia criar atmosferas e enigmas para que itanhaenses, tão acostumados à paisagem local a vissem mais uma, com atenção, dando atenção à suas formas, linhas, planos. Observassem a beleza de nossa terra. A Figura 133, além destas vigorosas linhas que conduzem nosso olhar de um extremo a outro também possui este equilíbrio que busquei organizar: entre a Ilha das Cabras e estas pedras em primeiro plano, ambas em contraluz, como se reverenciando ao Rei Sol.
O espelho d`água da imagem abaixo foi obtido apenas com o deslocamento de alguns passos de distância da foto anterior. Nesta busquei registrar esta bela duplicação dos céus. Nuvem a nuvem, cor a cor, a Prainha soube como ninguém igualar-se com o firmamento.



Amanhecer na Praia dos Pescadores II. Foto de Thais oliveira Silva. 02. Mar. 2012




Já a imagem registrada na foto abaixo pretendeu enfocar os resquícios da presença humana, os pescadores locais que haviam partido antes do nascimento do Sol. O carrinho posicionado no primeiro plano da imagem possibilitou aos pescadores levar, com um pouco menos de sacrifício sua canoa. Em breve ela retornará repleta com as nossas riquezas deste mar que nunca negou suprimento a estes homens. É interessante notar que as linhas formadas pela maré nas areias da praia seguem um mesmo ritmo do desenho das nuvens estriadas deste céu. Como numa bela sinfonia, todos estão num mesmo acorde.


Amanhecer na Praia dos Pescadores III. Foto de Thais oliveira Silva. 02. Mar. 2012





Parti para meu local de trabalho satisfeita com minha série realizada neste dia, porém, em meu caminho ainda encontrava-se a Praia dos Sonhos e as imagens abaixo foram irresistíveis, não consegui prosseguir sem antes captá-las.
A primeira foi tomada dos areais já úmidos da Praia, a fim de captar também seu belo reflexo sob o local. O sol intenso refletido através da vidraça deste prédio me chamava, avisando-me que o seu caminhar sob os céus estava em processo adiantado. Já estava na hora de eu também ir trabalhar
Um último olhar lançado para trás e capto a Praia dos Pescadores vista da Praia dos Sonhos. O intenso tom de bronze cobre todo o local. O Sol está a cada minuto mais intenso, arrebatador. Dirijo-me a meu trabalho, satisfeita com seus raios solares aquecendo minhas costas, na certeza de que haverá outros nascimentos do Sol. Ele sempre retorna triunfante, majestoso a cada manhã.


Reflexos Matutinos. Foto de Thais Oliveira Silva.02. Mar. 2012





Nascer do Sol na Praia dos Sonhos. Foto de Thais Oliveira Silva. 02. Mar. 2012






Tal tranquilidade, a de esperar pacientemente por oportunidades de registrar o percurso solar sob a terra foi adquirida com o tempo. Quando paro para refletir em minhas primeiras imagens obtidas deste fenômeno orgulho-me de onde consegui chegar hoje. Minha primeira tentativa foi no em Janeiro de 2012, eu já estava empolgada com o fato de estar registrando durante a madrugada a Folia dos Reis que não consegui dormir o resto desta madrugada, tamanha era minha ânsia de registrar mais e mais. Dirigi-me até a Praia do Centro ainda escuro e esperei o nascimento do Sol sob um belíssimo céu sem nuvens.
Assim que percebi a mudança tonal das cores do céu, postei-me entre estes vegetais para que sirvam de contraluz.  Percebo muitos erros meus, ainda não havia experiência e nem definido minhas próprias regras, como a de enquadrar a linha do horizonte exatamente nas arestas do visor. Porém elas me são necessárias para que hoje eu possa refletir sobre estas composições e orgulhar-me.



Primeiras Tentativas I. Foto de Thais Oliveira Silva. 03. Jan. 2012




Na imagem registrei o quiosque dos pais de meu namorado em contra luz. A silhueta de cada uma destas árvores ai encontradas, bem como a forma do quiosque ganharam um tratamento diferenciado devido a esta bela luz que aponta em nosso horizonte. O céu ainda está escuro, a noite ainda não se foi por completo, mas o dourado está a caminho. Logo ele irá dominar toda a cena com todo seu esplendor.



Primeiras Tentativas II. Foto de Thais Oliveira Silva. 03. Jan. 2012




Primeiras Tentativas III. Foto de Thais Oliveira Silva. 03. Jan. 2012

Finalmente, na foto acima temos a imagem do sol já intenso, comparando com o da Figura 139. Este já é capaz de tingir as águas da Praia do Centro de Douradas, deixando sob elas seu rastro de luz.


Outras Imagens:










































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