Eram as duas árvores
frondosas
Que guardavam a
entrada da cidade
Eram seus galhos,
asas verdejantes
A sombra amiga para a
mocidade.
A passarada ali fazia
ninhos
E a cigarra, o
estrídulo final
E os pirilampos eram
como estrelas
De uma eterna noite
de natal.
Veio o progresso de
cimento armado
E num instante um
luzido machado
Deitou por terra uma
árvore, a fim
De, coroando o êxito
do asfalto
Fazer-lhe sepultura
de capim.
Aves assustadas
esvoaçaram
Parasitas bravias ao
chão rolavam
Bordando de folhagem
todo o chão
Uma só árvore ficou;
mas tão saudosa
Como ferida em pleno
coração
Gentes vieram, gentes
que se foram
Sempre tiveram sua
sombra. E agora
Emoldurado a vista da
montanha
Só uma fecha o painel
que a decora
Árvore amiga, diz a
velha Igreja
Estou tão triste,
pois te vi nascer
Numa saudade de sinos
batendo
E a figueira,
espetada e triste
Vai aos poucos
caindo.., morrendo...
A Velha Figueira e a
Matriz. Foto de Thais Oliveira Silva. 16. Mar. 2012
Inicio
a série fotográfica “persistente natureza” abordando as centenárias árvores
encontradas na Praça Narciso de Andrade, localizada no centro de Itanhaém, onde
estas persistem em ainda existir, em ainda nos proporcionar qualidade de vida.
Em toda a cidade pude localizar diversas árvores centenárias, caracterizadas
pelos seus tamanhos colossais, dissonantes das demais árvores que as cercam. Na
foto acima, registrei o corredor entre a Igreja Matriz e a Velha figueira num dia
chuvoso de março. Ao centro percebemos o antigo calçamento de pedras molhados
pela fina garoa que insistia em cair naquela manhã. O tom nostálgico da cena
fez-me refletir a respeito das diversas árvores que havia na Praça, algumas das
quais me lembro de quando era criança e não estão mais lá e desta outra velha
figueira, em que a poetisa Pedrinha nos fala na década de cinquenta do século
passado.
Muitas
mudanças ocorreram em nossa cidade. Diversas ruas sem calçamento, apenas
simples estradas de areia fina, hoje são belas avenidas, diversas árvores que
“atrapalhavam” o desenho da arquitetura urbana tombaram, mas ainda há as
sobreviventes, as belíssimas moradoras silenciosas desta minha terra, que nos
proporciona ar puro, sombra e moradias para também persistentes animais
selvagens, terrestres ou aéreos. Em que encontramos em cada uma de nossas ruas
e não apenas pontuadas aqui ou ali, mas em grande quantidade em nossas matas.
De
acordo com Ferreira (2008), devido ao fato de nossas terras pertencerem à Mata
Atlântica, uma vasta região de mata fechada que nos cerca, temos
como grande característica a umidade que provém dos encontros de diferentes
massas de ar e dos ventos que vêm do mar, carregados de vapor d'água. Em função
do alto grau de umidade, a vegetação se mantém verde durante todo o ano. A
respeito da luz encontrada nas matas, Ferreira (2008) explica:
Enquanto a água é abundante,
a luz no interior da mata é escassa provocando uma competição entre os
vegetais. A busca de uma maior exposição solar tem como resultado o
desenvolvimento de árvores altas, com copas ralas, que se unem formando um
dossel (camada de folhagem de uma mata composta pelo conjunto das copas das
plantas mais altas). (FERREIRA, 2008, p. 211)
Abaixo dessa cobertura vegetal
contínua, adaptado a quantidades menores de luz, encontra-se outro estrato que
é formado por árvores menores e arbustos de troncos finos e com copas densas.
Próximo ao solo, em condições de baixa luminosidade, temos uma formação de
espécies de pequeno porte, plantas jovens e sementes em germinação.
A competição pela luz entre plantas
da mesma espécie é pouco comum, pois possuem o mesmo grau de tolerância ao
sombreamento. Mas entre espécies diferentes, cujas necessidades luminosas são
desiguais, a disputa é muito evidente. Quando uma planta está disputando uma
posição no dossel, frequentemente perde as folhas. Essa característica, de
acordo com Ferreira (2008), permite ao vegetal deslocar todo o gasto de energia
que teve em função do crescimento do caule, a fim de conseguir um espaço ótimo.
As trepadeiras ou lianas, apesar de
retirarem nutrientes do solo, prendem-se aos troncos das árvores através de
espinhos, gavinhas ou raízes fixadoras, chegando a alcançar o dossel. Essa
estratégia de crescimento é uma maneira de atingir os pontos mais altos da
floresta.
Como a cobertura absorve a maior
parcela dos raios solares, deixando passar pouca luz, cria-se ao nível do solo
um ambiente escuro, pouco ventilado e constantemente úmido. Essas condições são
inadequadas ao desenvolvimento de muitas espécies vegetais, porém são ideais a
musgos e a algumas samambaias, que precisam de muita água. Abaixo de tantas
plantas, entende-se um leito de folhas depositadas numa chuva leve e permanente
de formas e cores. Com elas chegam ao solo o resto de nutrientes que as árvores
não conseguiram extrair das folhas. No processo de decomposição os minerais vão
sendo lentamente devolvidos ao solo e às raízes para contribuir na formação de
novas folhas. Colaborando deste processo, encontramos no chão da mata um
infindável número de fungos.
Um momento único: banho de luz! Foto de Thais
Oliveira Silva. 25. Mar. 2012
Diversas vezes fui às trilhas do
Morro do Sapucaetava a fim de registrar o chão das matas para comprovar estes
dados e realmente a luz é bem escassa no local, dificultando até mesmo a
captação com qualidade ali.
Na imagem acima, observamos uma parte da
raiz de uma árvore nativa sendo ocupada por dois fungos, recebendo um pequeno e
passageiro raio de luz do sol do meio dia.
Para Sapienza (2006, p. 07):
Olhar
de perto que não é olhar-relâmpago, nem olhar sorrateiro. É olhar contemplativo
que procura (e encontra) o esplendor do ínfimo, nas maravilhas que se escondem
no interior do mundo dos insetos, das flores e dos detalhes praticamente
invisíveis ao olho nu.
Para obter esta
imagem não utilizei as lentes especiais da macrofotografia, que de acordo com
Sapienza (2006) só é possível com o auxílio de tais instrumentos para que
detalhes difíceis ou até mesmo impossíveis aos nossos olhos sejam vistos na
imagem fotográfica. O que fiz apenas foi a de me inclinar sob o chão coberto de
folhas úmidas e registrar pequenas, mas maravilhosas sutilizas que geralmente
passam despercebidas por muita gente.
Como iniciei minhas
imagens fotográficas sobre minha cidade no mês de Dezembro, pude acompanhar uma
das mais belíssimas composições da natureza deste mês: o Flamboyant, belíssima
árvore ornamental com sua floração vermelha, que com o passar do mês de
Dezembro, mais se caem suas folhas, ficando apenas em evidência seu intenso
vermelho. Em diversas ruas itanhaenses eu as encontre e registrei durante este
mês, pois, assim que Janeiro se anunciou, suas flores começaram a cair, como se
fossem apenas ornamentos natalinos.
Na foto abaixo, registrei apenas parte de seus floridos
galhos sob um intenso céu azul.
Mês de Dezembro
os “flamboyants” florescem
as ruas todas se aquecem
com um colorido todo especial
laranja, vermelho
verde claro, verde escuro
um brilho de natal.
A cidade parece estar em festa
Atraem olhares, despertam admiração
primorosos, coloridos
de exuberantes matizes
os flamboyants da minha cidade
são pedaços de saudade
espalhadas pelo chão.
Atraem olhares, despertam admiração
primorosos, coloridos
de exuberantes matizes
os flamboyants da minha cidade
são pedaços de saudade
espalhadas pelo chão.
Quase em todas as ruas têm
um flamboyant florindo
minha rua tem um lindo também
vendo-os, acredito com certeza
que são um presente da natureza
para deixar mais bonita e acolhedora
minha cidade Itanhaém...
um flamboyant florindo
minha rua tem um lindo também
vendo-os, acredito com certeza
que são um presente da natureza
para deixar mais bonita e acolhedora
minha cidade Itanhaém...
(Nicoletta Brugnoli Bouças. Os “flamboyants” de Itanhaém. In: Itanhaém, beleza em prosa e verso. Itanhaém, 1997)
Flamboyant natalino. Foto:
Thais Oliveira Silva. 02. Dez. 2011
Na
imagem abaixo, captei esta bela imagem por acaso. Eu e o Bruno, meu namorado,
estávamos voltando de uma série fotográfica na Boca da Barra, eu já estava
cansada, com a câmera guardada, pois já estava anoitecendo e minha câmera
compacta não administra bem as imagens tomadas em baixa luminosidade. Esta
árvore encontra-se ao lado da Ponte Sertório Domiciliano, no início da Alameda
Emídio de Souza e o Bruno estava a um tempo observando a revoada de diversas
Andorinhas à procura de um abrigo para dormir ao anoitecer. Ele me indicou a
olhar para cima e enfim ver esta delicada cena. O bando de Andorinhas encontrou
esta árvore desfolhada e já estavam dormindo sossegadamente. Fiz várias tomadas
desta árvore, fui feliz com a luz, que diferente de minhas expectativas ainda
estava favorável, buscando diversos ângulos, mas buscando mover-me
silenciosamente em respeito ao descanso dos pequeninos, cantando baixinho algum
acalanto para eles.
A partir do conselho do Bruno,
passei a observar a copa das árvores com mais atenção, buscando encontrar
momentos únicos ou até mesmo registrar a beleza singular de cada árvore, o belo
desenho de seus galhos harmonizando-se ao restante da cena.
Acalanto pra Você. Foto
de Thais Oliveira Silva. 11. Jan. 2012
Na fotografia abaixo, registrei a bela copa
desta árvore na Praça Benedito Calixto. Optei pelo tom monocromático a fim de
enfatizar as formas sinuosas desta árvore centenária, a qual é totalmente
coberta pelas trepadeiras, também ansiosas por um lugar ao sol.
Sinuosas formas de uma árvore. Foto
de Thais Oliveira Silva. 20. Mai. 2012
Um Gesto de Amor. Foto
de Thais Oliveira Silva. 25. Mar. 2012
A árvore localizada à esquerda da
fotografia acima, eternizou seu mais belo e nobre gesto. Ao ver sua companheira mais
velha e fraca vacilar e tencionar a tombar, esta desenvolve galhos como se
fossem braços e a acolhe a si, envolvendo tais galhos pelo frágil corpo de sua
companheira, segurando-a a fim de evitar sua queda. Um nobre gesto de empatia
que inúmeras vezes alguns seres humanos não são capazes de demonstrar.
Leitor, já teve a vontade de ir até
o final de uma estrada apenas por curiosidade? Eu sim. Numa manhã de janeiro
rumei de bicicleta para conhecer o final de uma estrada em que sempre a
utilizei. É a estrada Coronel Joaquim Branco, que se inicia próximo ao bairro
do Savoy, onde residi por muito tempo e se estende até a Fazenda Mambu,
originária da década de trinta, quando a plantação de banana aqui estava em
alta. (CALDAS, 2011). Percorri um espaço geográfico da cidade muito amplo,
apenas motivada pela curiosidade e pelo desejo de registrar a Mata Atlântica
satisfatoriamente preservada ao redor desta estrada que corta muitos bairros
rurais de Itanhaém. Finalmente ao chegar ao tão sonhado final da estrada,
deparo-me com uma das cenas mais impressionantes e belas da cidade. A beleza do
lugar, a solitude que me inspirava a todo momento, o ar puro a meu redor, tudo,
contribuiu para a beleza da imagem abaixo.
Havia um
conjunto de árvores nativas à beira da estradinha que se findava compondo um
momento único: uma delas estava prestes a cair, mas certamente isto não
ocorrerá, pois as demais a estavam segurando, seus galhos já estavam
interligados e ela continua viva, pois suas raízes conseguiram novamente
encontrar o solo. As antigas ramificações de suas raízes ainda estão expostas,
as lá no interior da terra ela conseguiu fixar-se. Conversei com os colonos da
Fazenda Mambu e eles me disseram que ela já está assim há mais de quinze anos.
Não apenas poemas dão vida e sentimentos humanos às árvores, elas mesmas ousam
em comportarem solidariamente umas com as outras. O que a torna curiosa, certamente é o fato de a imagem estar inclinada há a troca de papéis. A
única árvore inclinada, prestes a cair, neste enquadramento agora é a única ereta, com o mundo em sua volta
inclinado.
Segurem-me,
companheiras minhas! Foto de Thais Oliveira. 12. Jan. 2012
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