O velho mar me faz
Lembrar Itanhaém
Velhas casas
O convento, a Matriz
O Guaraú,
O baixio, o rio
O Rio pra atravessar,
A cama de Anchieta e
o mar;
A serenata na pedra
da lua
Para as sereias que
vêm do mar.
(Ascendino Rocha
Zwaarg. O velho mar. In: Itanhaém, um mar de Histórias. Itanhaém: Expoente,
2008)
O Baixio era um porto fluvial conhecido como Bairro
da Felicidade. Era um pequeno lugarejo de caiçaras com seu trapiche construído
em pontaletes e tábuas, servindo de atracadouro para os barcos de pesca
artesanal. (FERREIRA, 2008)
Como estava há uns 300 metros do centro da cidade se
descarregavam pequenos navios de carga que iam rio acima buscar cachos de
bananas, fazendo-se a baldeação para as galeras da Estação de Ferro Sorocabana.
Esse trabalho era desempenhado por operários que transportavam até quatro
cachos por vez, a uma distância de 80 metros, ganhando o salário pelo número de
cachos.
No local, há venda de pescados ainda hoje. Algumas
marinas se instalaram às margens do rio, confundindo a paisagem entre o antigo
e o moderno, mas os barcos de pesca dos caiçaras permanecem em seus
atracadouros originais.
O Guaraú também é um bairro de ribeirinhos,
possuindo um porto ainda ativo onde guarda inúmeras lembranças do passado. Há,
no local, diversas casas de madeira, preservadas, oriundas da década de trinta,
tempo em que era comum este tipo de moradia na cidade.
Seus telhados velhos, o mar e a serra além. Foto de
Thais Oliveira Silva. 08. Jan. 2012
Em minhas visitas para fotografar estes bairros fui
tomada por uma grande saudade de minha avó. Sempre íamos ao Guaraú e já morei
no bairro do Baixio. Ambos possuem um odor caraterístico: peixe, claro! Não foi
algo enjoativo, porém nostálgico, é sempre bom voltar ás origens, aos locais da
infância.
A imagem que selecionei para representar o bairro do
Guaraú foi a foto acima, tomada do alto da Rodovia Padre Manoel da Nobrega onde
se veem os “telhados velhos” deste bairro secular.
Já para representar minha visão sobre o Baixio,
selecionei a imagem abstrata que podemos observar na imagem abaixo, o dia 18 de
março de 2012 foi bastante ensolarado e, portanto propício às minhas
fotografias, pois sou apaixonada pelas cores, pela saturação conferida num dia
ensolarado do que num dia nublado, melancólico a meu ver. Minha maior série
fotográfica deste dia se concentrou na linha do trem próximo ao bairro chamando
Baixio, no qual morei por alguns meses quando eu tinha quatro anos. Ao
finalizar a série, já estava cansada, com muita vontade de voltar, mas ao olhar
para o início da Rua das Andorinhas algo adormecido em mim despertou: Minha
curiosidade em conhecer o porto da rua, local que antigamente era um tabu para
mim, talvez porque durante alguns dias jovens usarem narcóticos no local quando
eu era criança, ou talvez por suas águas serem profundas e possuírem
correntezas, mas neste dia, meu medo foi pequeno perto da curiosidade. Uma
curiosidade guardada por anos deveria ser saciada. Caminhei até o local. Não
havia ninguém, apenas um barco ancorado e outro quebrado na rua. Absorvi toda
beleza do lugar, a visão privilegiada do Rio Itanhaém e do Morro Piraguyra! Que
linda esta minha visão inédita... Pensei em fotografar o morro, estando ele no
segundo plano e o rio no primeiro, mas como já era final da tarde pensei em
usar alguma contraluz, mas o que? Caminhei até o barco quebrado no canto da rua
e vi a rede, gosto do seu grafismo confuso, fotografei-a, mas percebi que a
composição ficaria melhor se eu enredasse o próprio pôr-do-sol, bem como o
lugar, para simbolizar que por tanto anos o lugar que esteve proibido a mim,
agora eu o enredei, prendi-o a mim. É meu.
Gosto muito da confusão que esta foto cria ao
primeiro olhar... E como era uma rede fiquei pensando por alguns segundos que o
céu devia ser o mar... O grafismo das linhas da rede iluminadas pelo sol é bem
cativante ao olhar... Uma bela fotografia para nos ensinar a olhar como deve
ser. Bem visto e mais uma vez parabéns Thais!
(PEREIRA, João Evangelista Dos Santos. JEvangelista.
[mensagem pessoal] Mensagem recebida por < jespcl3@yahoo.fr> em 12. Abr.
2012)
Enredado. Foto de Thais
Oliveira Silva. 18. Mar. 2012
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