Vinha descalço, cansado
e, com o cesto pesado
quase nem podia andar
perguntei, então menino
o que trazes pra vender?
quero comprar, tenho fome,
e não tenho o que comer.
e, com o cesto pesado
quase nem podia andar
perguntei, então menino
o que trazes pra vender?
quero comprar, tenho fome,
e não tenho o que comer.
Ele me olhou admirado
olhou meu carro quebrado.
encostou no barranco
sorriu e disse: pois não
e posto o cesto no chão
mostrou-me tudo o que tinha
que dava para um fartão.
olhou meu carro quebrado.
encostou no barranco
sorriu e disse: pois não
e posto o cesto no chão
mostrou-me tudo o que tinha
que dava para um fartão.
Camarão seco, palmito,
um naco de peixe frito
e frutas em profusão...
banana, caju, pitangas,
goiabas, laranjas, mangas
espiga de milho verde
batata doce, cará
e ainda um cacho de indaiá.
um naco de peixe frito
e frutas em profusão...
banana, caju, pitangas,
goiabas, laranjas, mangas
espiga de milho verde
batata doce, cará
e ainda um cacho de indaiá.
E enquanto os petiscos eu devorava
o pequenino sem me olhar cantava
uma singela e singular canção
falava na riqueza de sua terra
na água fresca que descia a serra
regando os bananais, descendo pro grotão
nos mantos de arrozais se escondiam
nos goiabais que a muitos enriqueciam
nos vastos palmitais...
o pequenino sem me olhar cantava
uma singela e singular canção
falava na riqueza de sua terra
na água fresca que descia a serra
regando os bananais, descendo pro grotão
nos mantos de arrozais se escondiam
nos goiabais que a muitos enriqueciam
nos vastos palmitais...
E do pescado fresco prateado
das redes cheias de camarões lousados
d´uma fartura que eu não vi jamais
-Mas quem es tu? Falei admirada
e donde vens a pé por esta estrada
que aqui nesta fartura vives na pobreza?
hé? Não me conheces? Não te levo a mal
meu dia chegará, tenho certeza...
das redes cheias de camarões lousados
d´uma fartura que eu não vi jamais
-Mas quem es tu? Falei admirada
e donde vens a pé por esta estrada
que aqui nesta fartura vives na pobreza?
hé? Não me conheces? Não te levo a mal
meu dia chegará, tenho certeza...
Eu sou... O Litoral.
(Pedrinha Zwarg. Terra da promissão.
In: Poesias e trovas, 1999)
Infinito Azul. Foto
de Thais Oliveira Silva. 30. Jan. 2012
O
eterno vai e vem das ondas nas praias, das ondas nos costões estarão para
sempre guardados em minha memória, seu som, seu odor característico, sua bela
aparência. Não apenas em escassos dias o visito, mas sempre. O mar me encanta
sobremaneira, preciso observá-lo todos os dias.
E
não me refiro a qualquer vista para o mar, mas a de minha cidade, minha
Itanhaém, sempre a verei como um poema musical, cantando a beleza imensa do
nosso mar, a amplidão de nosso céu azul, com suas belas serras azuis que nada
mais são do que imensas várzeas multicoloridas, em diversos tons de verdes, uma
profusão de cores e odores únicos.
O
vento praiano é algo delicioso de se sentir e uma pena não poder registrá-lo em
minhas fotografias. Ele me desafia a encará-lo, me conforta, quando estou a seu
favor, nos dias quentes, me traz o cheiro de minha cidade, este odor salino que
tanto me encanta. Gosto de tê-lo em mim para assim eu estar em harmonia com
minha terra, ser uma só com ela, não uma intrusa. A foto abaixo foi realizada
num destes meus percursos onde caminho até a beira-mar para sentir sua maresia
em mim. O local que foi registrado pela manhã é a Praia do Centro, imagem
tomada em frente á Praça 22 de Abril, centro.
Maresia Onipresente. Foto de Thais
Oliveira Silva. 05. Jul. 2012
Querida Itanhaém. Foto de Thais Oliveira Silva. 24. Jan. 2012
Editei
a Figura 143 deixando-a monocromática, para que possamos ater-nos ás suas
formas e a tonalidade existente na cena, que vai da cor intensa das escuras
matas do Morro do Sapucaetava, passando pelos tons médios da grama na orla da
Praia até chegar á pura areia do local. Vemos ao fundo pescadores neste local
que também é muito procurado por eles, onde há o encontro do mar com o rio,
porém os homens estão tão pequeninos ante a beleza e potência do local.
Idealizei a cena e tantas outras neste percurso artístico tendo em mente a
busca dos artistas do Romantismo, onde registravam a natureza sempre bela
imensa e o homem sendo apenas um elemento pequeno na obra. Esta foi minha busca
inicial para compor imagens de paisagens.
Em
minha poética visual, as fotos marítimas concentraram-se principalmente em
registrar a Praia dos Pescadores, um local que amo desde minha infância, com
suas águas calmas, características de sua baía, de sua aparência sempre
agradável.
A
prainha se situa em pequena baía protegida pelo costão rochoso e pela Ilha
Givura (Ilha das Cabras), local até hoje usado pelos pescadores artesanais para
acesso ao mar e venda de peixe fresco. O local foi “ocupado” na década de
sessenta, também pelos pescadores catarinenses, com suas grandes canoas de voga
e motor de popa, grupos semelhantes na filosofia de vida e origens. Hoje já não
se distinguem os catarinenses dos da terra – todos pescadores caiçaras na luta
pela sobrevivência. (BRANCO, 2005, p.33)
O
interesse pelo loteamento da Prainha, de acordo com Branco (2005), teve início
logo que a ponte Sertório Domiciliano foi construída sobre o Rio Itanhaém; hoje
este lugar que é um dos mais antigos da cidade está ocupado pela urbanização.
Fotografei
a Prainha numa fria e atípica tarde de Dezembro, que editei posteriormente,
tornando-a monocromática nos tons sépia. O céu refletido sob os
areais úmidos do local seguem a mesma luminosidade. As nuvens situadas à
direita da imagem são as responsáveis pelo escurecimento da imagem, onde atrás
delas está nossa fonte luz, o sol. À esquerda, da imagem não há nuvens, há um
céu límpido, porém o mar está escuro em decorrência do declínio do sol. Estes
pequeninos pontos escuros ao fundo são as persistentes gaivotas à espera da
última canoa. “Logo eles chegarão para nos dar alguns peixinhos”, almejam. Ao
fundo da cena encontra-se em contraluz a escultura dedicada à novela Mulheres
de Areia.
A Praia dos pescadores ficou famosa por ter sido
escolhida para as gravações da primeira versão da novela da Rede Globo Mulheres de Areia, que foi ao ar em
1973. As cenas eram filmadas, na sua grande maioria na Prainha, e o ator e
escultor Serafim Gonzáles (1930-2007), natural de Santos (SP), era quem fazia
as esculturas na areia antes das gravações. Muitos turistas que vinham a
Itanhaém para acompanhar o ritmo das gravações e os bastidores da novela
tiveram oportunidade de conhecer nossa cidade. (FERREIRA, 2008) Numa pedra,
próximo ao Púlpito do Anchieta, encontra-se uma escultura em bronze, do mesmo
escultor, eternizando o momento aqui na cidade.
Cai a tarde. Foto
de Thais Oliveira Silva. 10. Dez. 2012
Registrei a escultura num dia nublado a fim de
estudar a relação climática com o efeito que a mesma causa sob a imagem. A
foto abaixo possui, devido ao clima, um toque nostálgico, onde as cores da cena
também contribuem para esta minha impressão. Se fôssemos compará-la com a foto a qual foi tomada deste mesmo local, porém em condições climáticas
bem diferentes, nesta, o sol estava nascendo envolto a diversas cores quentes,
deixando a estátua e a Ilha das Cabras ao fundo enegrecidas. Nesta foto ocorre o inverso: o céu está praticamente sem cor, pálido e as figuras outrora
em contraluz agora podemos observar seus detalhes. Abaixo da figura da mulher
encontra-se uma placa de bronze onde está escrito a respeito da novela e
agradecimentos à cidade por ter cedido tão belo local para as filmagens.
Sob uma
tarde nublada. Foto de
Thais Oliveira Silva. 18. Mar. 2012
No
dia dez de Dezembro de 2011 registrei uma série que me foi extremamente
decisiva para que a linguagem fotográfica se fortalecesse em mim. Após cento e
cinquenta fotografias na passarela de Anchieta, um belo ponto turístico, voltei
ao entardecer para a praia dos Pescadores, bairro onde minha avó sempre nos
levava para nadar, por se tratar de uma baía e, portanto, de águas calmas. Hoje
em dia posso estar fotografando ainda mais o local, em todas as horas do dia,
acompanhando o percurso do Sol, pois é o bairro de meu namorado. Durante as
férias estive registrando o local continuamente. Neste dia ao cair da tarde, eu
havia decidido não fotografar mais. Fiquei na beira mar lendo, esperando que
ele saísse do mar. Porém, o crepúsculo tomou toda a atenção do livro. Estava
encantador, com poucas nuvens, conferindo ao céu e ao mar uma uniformidade
fantástica ao cair da tarde com tons de violeta, amarelo, laranja e toda
contraluz produzida por quem ou o quê ousasse estar na frente da belíssima
iluminação do Rei-sol. Rapidamente larguei o livro e recomecei a fotografar,
percebi que as melhores composições seriam as que eu tivesse que entrar na
água, molhando pelo menos até o tornozelo, pois o mar naquela hora já estava
recuando, não era necessário deslocar-se até o fundo. Lá, pude registrar belas
composições, onde o mar, os últimos reflexos solares e os de luzes artificiais
puderam contribuir para uma forma harmoniosa e repleta de significações.
Percebi meu potencial para registrar a hora
mágica, ou seja, o momento em que as cores ficam mais agradáveis, a saturação
lindamente aumentada com os detalhes e texturas reveladas, formando sombras suaves.
A luz neste período foi-se modificando a cada minuto, conferindo às minhas
fotografias detalhes e composições únicas. Precisei ser rápida e atenta para
registrá-las a tempo até que a noite chegasse.
O último a sair do mar. Foto de Thais
Oliveira Silva. 10. Dez. 2011.
Finalizei
a série registrando o momento em que o último surfista saia do mar. Aquele que em harmonia com a paisagem sempre deslumbrante compôs meu lugar
ideal, aonde sempre irei para sonhar na certeza de vê-los realizados um a um.
Além
da Praia dos Pescadores, outras praias de Itanhaém fizeram parte de minha
poética pessoal.
A
Praia da Saudade é uma estreita faixa praia de rio, no sopé do Morro do
Sapucaetava. É uma praia de águas mansas, salgada ou doce conforme a maré entra
ou sai da barra do rio, como observa Branco (2005), está em perfeita situação
para pesca. Antigamente o caiçara armava a rede para encontrar o canal da barra
e, nele, todos os peixes que entravam no estuário para desovar ou alimentar.
Perto desta praia encontra-se um manguezal onde o caiçara até os dias de hoje,
coleta caranguejos, ostras e crustáceos. Na Figura 147 temos a vista da Boca da
Barra tomada da Praia da Saudade numa manhã ensolarada. Porém, como se anuncia
ao fundo, com estas escuras e pesadas nuvens, esta tarde teve mais uma típica
chuva de verão.
Praia da Saudade I. Foto de Thais Oliveira Silva. 29. Jan. 2012
Praia da Saudade II. Foto de Thais
Oliveira Silva. 23. Dez. 2012
A
Figura 148 registra a vista do Centro da cidade tomada do local. No momento em
que estou fotografando, mais um barco de pesca dirige-se ao alto mar. Na Figura
149 temos a imagem do pequeno manguezal do Sapucaetava.
A
praia dos Sonhos teve seu início de povoamento por volta de 1924, segundo
Branco (2005). Em sua orla temos a presença de três prédios construídos durante
as décadas de sessenta e setenta.
A
praia de Peruíbe, com 24 quilômetros de extensão tem seu mar calmo, sem
correntezas importantes, vai desde o Rio Itanhaém até o município de Peruíbe,
desaguando nas águas do Rio Piaçanguera. De acordo com Branco (2005), existia
uma comunidade caiçara no local denominado Camboriú, hoje Cibratel II. “Desta
antiga comunidade itanhaense já não resta nenhum indício, a não ser a memória
das pessoas mais idosas e os restos da antiga estação de trem” (BRANCO, 2005, p.
34)
Nas praias de Itanhaém, ainda conseguimos encontrar
Jundu, um tipo de vegetação muito resistente à ação dos ventos e da salinidade
(FERREIRA, 2008), elas são árvores pequenas, de troncos retorcidos e
entrelaçados, possuindo folhas espessas e lustrosas.
A palavra Jundu origina-se do tupi, que significa
“mata ruim”. Sua importância reside no fato de que ele fixa as dunas de areia e
apresenta plantas frutíferas como a maçãzinha-da-praia. Ela, portanto funciona
como uma barreira natural auxiliando as dunas de areia a impedirem a invasão da
maré e da ação dos ventos. Na Figura 150 as formações de Jundu encontram-se em
primeiro plano, tendo ao fundo, o Morro do Sapucaetava envolta à brumas da maresia.
De acordo com Ferreira (2008), o mar do litoral sul
é raso, com águas turvas, arrebentação constante e terra fina. Devido a
extensão destas terras, os navegantes preferiam fazer suas viagens sempre
beirando a costa, sem se afastar mais de 500 metros da praia.
Esta arrebentação constante é a marca principal do
Praião localizados no final da faixa de areia que se estende do
Boqueirão (Praia Grande) a Itanhaém, com seus ininterruptos quarenta
quilômetros até desembocar no Rio Itanhaém que é denominada Praia Grande.
Segundo as descrições de Branco (2005), é uma extensa praia de mar aberto, onde
não existem baías, recôncavos, costões rochosos ou qualquer proteção contra o
vento e as marés.
Contemplação. Foto de Thais Oliveira Silva. 07. Abr. 2012
Esta
praia, principalmente a praia do Tombo, localizada após o encontro do Mar com o
Rio, é violenta, com grandes e assustadoras arrebentações. Porém, no dia 7 de
Abril estava pacífica, distante, irreconhecível. Não me esquecerei, pois em
toda minha vida nunca havia ido tão profundo em suas areias e agora lá estava
eu, a registrando há uns trinta metros mar adentro, quando em condições normais
a faixa de areia seca não passa de cinco metros. Na foto acima temos a imagem de dois
pescadores observando atentamente suas varas de pescar, fincadas nas areias e
bem mais do que isto, acredito que também contemplam a maravilha de paisagem
que se apresentava aos que estavam presente na Praia do Centro neste dia. Os
belos reflexos do nascimento solar são refletidos em toda a praia tornando a
imagem uma só, havendo a junção entre céu e terra.
Na
imagem abaixo vemos uma cena nada cotidiana, pois normalmente de onde estou
captando a orla do Praião as águas são profundas e agitadas, neste dia suas
tranquilas águas formaram um belíssimo espelho d` água.
Uma manhã memorável.
Foto de Thais Oliveira Silva. 07. Abr. 2012.
Praias de Itanhaém,
Magia de luz e cor,
Princesa dos mares do Sul
Devolve o meu amor
Há um ditado
Na minha terra
Amor de praia
Não sobe a serra,
É como a onda
Que beija a areia
Quando é noite
De lua cheia
A onda beija
E vai se embora,
A areia fica
Tão triste e chora
Eu já sabia
Linda criança
Que era tudo onda
Só ficou uma esperança.
(Antônio
Bruno e Ernesto Zwarg. In: Itanhaém, um
mar de histórias. Itanhaém: Expoente, 2008)
A Figura 153 mostra-nos uma sequência de pequenos
quiosques e palmeiras onde estes apontam em direção ao mar, os quais são
encontrados na Praia do Centro. A imagem foi tomada pela manhã, o que
possibilitou a contraluz no primeiro plano sob um intenso azul encontrado tanto
nos céus quanto no mar.
Só ficou a lembrança. Foto de Thais Oliveira Silva. 03. Jul. 2012
Outras imagens:
Nenhum comentário:
Postar um comentário