O grupo “Reisado de Itanhaen”, que a duras
penas vem mantendo essa belíssima tradição, por iniciativa de seu saudoso
“Alferes” Carlos Alberto Ferreira, e hoje sob o comando do acadêmico Ernesto Bechelli,
deflagrou um movimento intitulado “Volta, Conceição de Itanhaen!”, objetivando
o resgate do antigo nome da cidade e a verdadeira data de sua fundação: 08 de
dezembro. (ROSENDO, 2008, p. 67)
O
movimento “Volta, Conceição de Itanhaém” é formando por itanhaenses apaixonados
por nossas tradições, descendentes ou não de caiçaras que há anos estão com
muito empenho mantendo viva nossa cultura. Na fotografia abaixo podemos observar parte
dos seresteiros que compõem o grupo do Reisado de Itanhaém, com seu Alferes
Bechelli no primeiro plano, à esquerda da imagem tocando seu violão. Desde a
década de oitenta do século passado estes nobres moradores desejam resgatar a
história ligada à manifestação de fé dos primeiros moradores e o que isso hoje
representa na memória, tradição e autonomia dos que a amam.
O movimento busca o
retorno do nome da cidade para Conceição de Itanhaém, modificado em 1906 sem
nenhuma consulta à sua população. Junto também quer a mudança da data
comemorativa de sua fundação para 08 de Dezembro, dia este dedicado a Nossa
Senhora Da Conceição de Itanhaém, que é muito mais próximo da real intenção dos
fundadores da Vila Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, do que o decidido
decreto, depois de quatrocentos anos (em 1956) para homenagear a data de
aniversário de um político, impondo-se o dia 22 de Abril.
Seresteiros caiçaras. Foto de Thais
Oliveira Silva. 02. Jan. 2012
Ernesto Bechelli (1958-) concedeu-me uma entrevista
no dia 17 de janeiro de 2012, a fim de esclarecer alguns pontos a respeito
deste movimento. Ele que é um itanhaense dedicado ao cultivo de nossas
tradições e da cultura em geral. Desde sua mocidade, como relata, participa
destas festas tradicionais e nunca se afastou destas. Em entrevista conta que a
partir de 2005 este movimento, concernente às festas teve sua consolidação,
pois foi criada a APRODIVINO (Associação Pró Festa do Divino), uma instituição
não governamental que cuida para que a Festa do Divino Espírito Santo ocorra
bem, apoiando os festeiros, apoiando a Igreja no sentido de organização,
resgatando tudo o que ficou perdido com o decorrer do tempo. Na década de
sessenta a Folia do Divino havia terminado e com esta organização, ela retorna
de uma forma mais simplificada. Logo após o Carnaval até a Festa do Divino, dá
em torno de sessenta dias, até que as bandeiras percorram por diversos bairros,
alcançando o número de seiscentas casas, não apenas arrecadando prendas, mas
abençoando aos festeiros. Tal evento tem
como objetivo de arrecadar fundos e prendas para a Festa do Divino, que, após
esta década até o ano de 2005, havia ficado na responsabilidade de apenas
algumas famílias tradicionais de Itanhaém. Portanto, com o retorno da Folia do
Divino, um número considerável de pessoas passou a auxiliar, para que a festa
se tornasse maior e mais consolidada. A Prefeitura de Itanhaém também tem sua
participação, ao auxiliar a organização e ao contratar músicos de renome que se
consagraram no meio da Música de Raiz, entre eles, Inezita Barroso (1925-),
Almir Sater (1956-) e Renato Teixeira (1945-) já estiveram presentes em nossas
comemorações desde o ano de 2005.
Retornando à modificação do nome de nossa cidade,
para Bechelli (16. Jan. 2012),
A veneração à Virgem Nossa Senhora da
Conceição de Itanhaém é evidente, por isso que por anos o nome da cidade era
Conceição de Itanhaém, quando ela se tornou município, e então em 1906 houve
uma lei que tirou “Conceição”, ficando só o Itanhaém. E ai a gente até entende,
que foi um processo que aconteceu muito no Brasil, quando se tornou república,
a retirada nos nomes que tinham alguma relação com os Santos. Muitos pensam que
esta ação foi fomentada pela Maçonaria, mas enfim, foi um ato institucional da
República por todo o Brasil, para de uma vez cortar os laços com a Igreja,
concernente a seu poder que anteriormente concorria com o poder “humano”, por
assim dizer. E aqui no estado de São Paulo tiveram vários municípios que
tiveram seus nomes trocados e Itanhaém foi um deles.
Alguns
municípios reverteram, um exemplo que a gente tem foi o de São José do Rio
Preto, foi para Rio Preto, mas o pessoal brigou e voltou a ser como era. Mas
Itanhaém neste processo ninguém falou nada e ficou Itanhaém. Nós temos o
movimento ai na cidade para o retorno do nome “Conceição de Itanhaém”, pra
resgatar essa ligação com Conceição e outra é a questão da data de fundação,
onde na época de 1956, encontraram várias cidades sem data oficial de fundação
registrada e para homenagear o Governador de São Paulo, da época de Getúlio
Vargas, Adhemar de Barros, e em função disso várias cidades a partir deste ano
teriam de comemorar o dia de sua fundação em 22 de Abril.
Para
nós, tem muito mais a ver o dia 08 de Dezembro do que esta data, pois no
calendário litúrgico católico é a festa de Nossa Senhora da Conceição, a
Padroeira da Cidade. É comemorada não
apenas aqui em nossa cidade, mas em todo o universo católico, esta data é
dedicada a Ela. Modificar a data seria algo mais fácil, em relação à mudança do
nome da cidade seria um processo muito mais lento e burocrático, nesta cidade
que infelizmente não há muitos registros preservados, a maioria de nossa
história perdeu-se por se tratar de transmissão oral.
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