domingo, 16 de março de 2014

Início da linha férrea na cidade




A ponte sobre a curva do Rio
Transpôs a modernidade
Na vila praieira encantada
Por anos de isolamento.
[...]

(Sonia Gisela Fonseca. O ontem no presente. In: Itanhaém, beleza em Prosa e Verso. Itanhaém, 1997)




 Isolamento Foto de Thais Oliveira Silva.18. Mar. 2012


Segundo Caldas (2011), a quinta ferrovia do país inaugurada em 16 de fevereiro de 1867, a São Paulo Railway Company – SPRC (depois Estrada de Ferro Santos-Jundiaí). A primeira composição chega a Itanhaém em 17 de janeiro de 1914. De acordo com relatos dos mais antigos, recolhidos por Caldas (2011), já nesta primeira viagem, dezenas de famílias desembarcaram com malas e demais pertences: eram os filhos e esposas dos que construíram a ferrovia e gostaram da cidade. Este foi o primeiro passa para a formação do bairro denominado “Vila São Paulo”, onde se registrou um amplo crescimento populacional na cidade nas duas primeiras décadas do século passado.
Foi a partir da inauguração da linha férrea, em 1914, que Itanhaém passou a ser conhecida como recanto turístico ideal para as férias de verão, primazia que antes pertencia a Santos e Guarujá. (CALDAS, 2011) Porém, segundo Rosendo (2008) o crescimento não foi de modo algum repentino:

Mesmo com a chegada da ferrovia (Southern São Paulo Railway), em 1914, não houve desenvolvimento significativo na comunidade então existente, fiel às suas origens e mantendo o bom nível cultural herdado dos monges franciscanos. Somente com a chegada da rodovia, quando o paulistano teve facilitado o acesso ás nossas praias é que Itanhaém descobriu seu potencial turístico, hoje sua maior fonte de renda. (ROSENDO, 2008, p. 69)

As casas dos ferroviários deste período ainda podem ser encontradas na margem da linha, as mais numerosas na Vila São Paulo e as demais próximas às antigas estações de Belas Artes, Cibratel, Camboriú e Vila Loty.
. A construção da ferrovia, segundo Caldas (2011) modificou a geografia local, provocando a abertura de um túnel na rampa do Convento e a transferência do cemitério que havia ao lado do Morro Itaguaçu. Abaixo temos a imagem da Rampa do Convento tomada de onde é um estacionamento e travessa atualmente, porém, como já dito, de onde estou a retratar a imagem era o local do cemitério primitivo.
Em 1927 a ferrovia passou para o controle da Sorocabana. Até os anos de 1950, segundo Caldas (2011), a estrada de ferro era o único transporte para Itanhaém. Havia a alternativa de se locomover com carros pela praia, vindo desde a Ponte Pênsil de São Vicente até a cidade. Apenas um acidente grave envolvendo este transporte foi registrado:

Em registro manuscrito do pintor Emídio de Souza, consta que na manhã do dia 1º de fevereiro de 1946 houve um acidente com uma locomotiva a vapor, que despencou sobre o Rio Itanhaém, matando o maquinista e um guarda-trem. A carta explica que o foguista sobreviveu, porque se atirou na água antes que a locomotiva tombasse. (CALDAS, 2011, p. 48)





Sob o Sol Matutino. Foto de Thais Oliveira Silva. 06. Mai. 2012

 Em 1972, já no período de decadência da linha, passavam ainda por ali pelo menos seis trens diariamente, e um deles, como descreve Caldas (2011), era conhecido como “jotinha”, que era um trem misto. Os trens de passageiros foram suspensos em dezembro de 1997, depois de passarem por ali por 84 anos. Os desvios da estação foram retirados, os trilhos estão jogados à frente da plataforma. O armazém foi demolido.



Abandono. Foto de Thais Oliveira Silva. 18. Mar. 2012


A fotografia acima mostra o pormenor da linha do trem ainda visível, pois em certos trechos é impossível enxerga-los. Nesta imagem, obtida em frente ao Bairro do Baixio, percebemos o apodrecimento das madeiras utilizadas como sustentação e apoio, bem como o enferrujamento tanto dos trilhos, quanto de seus grandes parafusos. Ao aproximar-me para obter esta imagem ainda pude sentir o odor característico da linha do trem: o enxofre transportado pelos trens de carga que eventualmente caíam pelo caminho pequenas pedrinhas amarelas. Quantas outras histórias não guardam estes trilhos?
Fiz diversas tomadas das casas à beira da Linha do Trem, enfocando a bela harmonia entre as construções e a linha férrea. Tais moradias ainda mantêm características do passado, a começar pelos seus muros e portões baixos, com cerca de um metro e a estrutura geral das casas, suas janelas altas e estreitas, seu chão de cimento queimado vermelho, onde as moradoras ainda os enceram. 


Vila São Paulo. Foto de Thais Oliveira Silva. 12. Jan. 2012

Na foto acima vemos a imagem que captei uma das casas num dia ensolarado, onde a folhagem destas goiabeiras escurece o primeiro plano, desenhando assim uma moldura natural para o segundo plano, onde se encontram as casas.



 Resistentes ao Tempo. Foto de Thais Oliveira Silva. 21. Abr. 2012

Já na foto acima, efetuada numa tarde nublada e fria, conferindo a imagem um clima saudoso, vemos novamente as casas dos antigos trabalhadores da Sorocabana, onde esta trilha de areia a perder-se de vista é convidativa. Até onde ela irá?
Quanto ao trajeto da linha do trem, ou seja, o rumo dos trilhos, minhas fotos concentraram-se em tomadas em frente ao bairro do Baixio e sobre a Ponte sobre o Rio. É um dos poucos locais em que a linha férrea ainda é visível e de livre acesso. Realizei a série não apenas num único dia, mas em diversos, buscando também o registro em diversas condições climáticas.
Na imagem abaixo, idealizei esta composição baseada em lembranças de minha infância, em que neste mesmo horário registrado, final da tarde, quando eu sentia um misto de prazer, adrenalina e medo da altura no alto da ponte, durante este trajeto sobre o Rio Itanhaém. Desta tomada, vemos os Portos do Baixio, tendo ao fundo a Ponte da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega e ao longe nossas serranias imersas em brumas nesta perspectiva atmosférica. 


Oxidação Vertiginosa. I Foto de Thais Oliveira Silva. 18. Mar. 2012


A partir da postagem desta imagem no site de fotografia Olhares, o fotógrafo português João Evangelista expõe o seguinte pensamento:

Uma dos melhores exemplos do uso da composição diagonal!...além da luz estar fantástica, o facto de você ter incluído e aproveitado o grafismo desta protecção foi inteligente da sua parte!...além de ser cativante visualmente tornou esta composição "lógica"!
Se fosse à horizontal, seria mais um efeito de perspectiva como se vê tantas vezes por ai, mas assim ficou bem mais interessante e original!!!
Bem visto Thais e mais uma vez parabéns!

PEREIRA, João Evangelista Dos Santos. JEvangelista. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por < jespcl3@yahoo.fr> em 07. Jun. 2012.

Já a imagem abaixo foi tomada numa tarde nublada e escura. Devido á tal condição climática o Rio Itanhaém apresenta-se opaco, sem o brilho conferido ao Rio na imagem de cima. Percebemos que a condição da luz deste dia nos proporcionou observar ainda mais a condição de deterioração de sua estrutura metálica. A ferrugem ai apresentada possui um toque de textura. A tomada foi feita do lado direito da ponte da linha do trem, onde vemos em segundo plano a Ponte Sertório Domiciliano.

Oxidação Vertiginosa. II Foto de Thais Oliveira Silva. 20. Abr. 2012


A imagem abaixo foi registrada no sol do fim da manhã, conferindo ainda longas sombras á sua frente. É impossível trilhar mais uma vez pela linha do trem e não me recordar de minha avó, do tempo em que seguíamos não apenas onde alcança este enquadramento, mas muito além, horas de caminhada a pé por estes trilhos hoje abandonados. Era costume caiçara andar a pé longos percursos e quando em minha infância passávamos por ai, não estávamos sozinhos, mulheres, homens e crianças também percorriam por lá, sempre atentos à aparição dos trens. Estes que desde sua chegada o povo itanhaense, especialmente ás moças, como contam os antigos, acenavam alegremente aos moços que se encontravam nos trens. Levava escondido um batom para apresentarem-se belas, um longo sorriso, o silêncio do encontro dos olhares... A despedida... Mais uma ilusão...



 Presença do Ausente II. Foto de Thais Oliveira Silva. 20. Abr. 2012.


            Na foto abaixo temos a imagem da ponte da linha do trem sobre o Rio Itanhaém. A tomada da imagem foi feita numa pequena praia embaixo da ponte, onde objetivei registrar imagens do estado da estrutura da ponte atualmente A vertigem causada pela imagem consegue ilustrar o fato de a anterior ponte ter caído numa manhã do ano de 1946. Atualmente apenas pescadores ousam permanecer na ponte desativada devido ás inúmeras deteriorações de seus ferros oxidados. Possuímos uma lenda local baseada neste fato, onde se acredita que um mero (um grande peixe de doze metros de comprimento) vive nos vagões submersos no fundo do Rio Itanhaém. A tranquilidade das águas aqui registrada é capaz de esconder um grande mistério: há ou não um Mero em nosso Rio? 


Ponte enferrujada. Foto de Thais Oliveira Silva. 27. Dez. 2011.



Outras Imagens:
























Um comentário:

  1. Pelo que eu sei a SPR (São Paulo Railway) passou a denominar-se Estrada de Ferro Santos a Jundiaí ao fim da Concessão. A SSPR (Southern São Paulo Railway) que era concorrente da SPR passou a denominar-se Estrada de Ferro Sorocabana.

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