A ponte sobre a curva
do Rio
Transpôs a
modernidade
Na vila praieira
encantada
Por anos de
isolamento.
[...]
(Sonia Gisela
Fonseca. O ontem no presente. In: Itanhaém, beleza em Prosa e Verso. Itanhaém,
1997)
Isolamento Foto de Thais Oliveira
Silva.18. Mar. 2012
Segundo
Caldas (2011), a quinta ferrovia do país inaugurada em 16 de fevereiro de 1867,
a São Paulo Railway Company – SPRC (depois Estrada de Ferro Santos-Jundiaí). A
primeira composição chega a Itanhaém em 17 de janeiro de 1914. De acordo com
relatos dos mais antigos, recolhidos por Caldas (2011), já nesta primeira
viagem, dezenas de famílias desembarcaram com malas e demais pertences: eram os
filhos e esposas dos que construíram a ferrovia e gostaram da cidade. Este foi
o primeiro passa para a formação do bairro denominado “Vila São Paulo”, onde se
registrou um amplo crescimento populacional na cidade nas duas primeiras
décadas do século passado.
Foi
a partir da inauguração da linha férrea, em 1914, que Itanhaém passou a ser
conhecida como recanto turístico ideal para as férias de verão, primazia que
antes pertencia a Santos e Guarujá. (CALDAS, 2011) Porém, segundo Rosendo
(2008) o crescimento não foi de modo algum repentino:
Mesmo com a chegada da ferrovia (Southern São Paulo
Railway), em 1914, não houve desenvolvimento significativo na comunidade então
existente, fiel às suas origens e mantendo o bom nível cultural herdado dos
monges franciscanos. Somente com a chegada da rodovia, quando o paulistano teve
facilitado o acesso ás nossas praias é que Itanhaém descobriu seu potencial
turístico, hoje sua maior fonte de renda. (ROSENDO, 2008, p. 69)
As
casas dos ferroviários deste período ainda podem ser encontradas na margem da
linha, as mais numerosas na Vila São Paulo e as demais próximas às antigas
estações de Belas Artes, Cibratel, Camboriú e Vila Loty.
.
A construção da ferrovia, segundo Caldas (2011) modificou a geografia local,
provocando a abertura de um túnel na rampa do Convento e a transferência do
cemitério que havia ao lado do Morro Itaguaçu. Abaixo temos a imagem da
Rampa do Convento tomada de onde é um estacionamento e travessa atualmente,
porém, como já dito, de onde estou a retratar a imagem era o local do cemitério
primitivo.
Em
1927 a ferrovia passou para o controle da Sorocabana. Até os anos de 1950,
segundo Caldas (2011), a estrada de ferro era o único transporte para Itanhaém.
Havia a alternativa de se locomover com carros pela praia, vindo desde a Ponte
Pênsil de São Vicente até a cidade. Apenas um acidente grave envolvendo este
transporte foi registrado:
Em
registro manuscrito do pintor Emídio de Souza, consta que na manhã do dia 1º de
fevereiro de 1946 houve um acidente com uma locomotiva a vapor, que despencou
sobre o Rio Itanhaém, matando o maquinista e um guarda-trem. A carta explica
que o foguista sobreviveu, porque se atirou na água antes que a locomotiva
tombasse. (CALDAS, 2011, p. 48)
Sob o Sol Matutino. Foto
de Thais Oliveira Silva. 06. Mai. 2012
Em 1972, já no período de decadência da linha,
passavam ainda por ali pelo menos seis trens diariamente, e um deles, como
descreve Caldas (2011), era conhecido como “jotinha”, que era um trem misto. Os
trens de passageiros foram suspensos em dezembro de 1997, depois de passarem
por ali por 84 anos. Os desvios da estação foram retirados, os trilhos estão jogados
à frente da plataforma. O armazém foi demolido.
Abandono. Foto
de Thais Oliveira Silva. 18. Mar. 2012
A
fotografia acima mostra o pormenor da linha do trem ainda visível, pois em certos
trechos é impossível enxerga-los. Nesta imagem, obtida em frente ao Bairro do
Baixio, percebemos o apodrecimento das madeiras utilizadas como sustentação e
apoio, bem como o enferrujamento tanto dos trilhos, quanto de seus grandes
parafusos. Ao aproximar-me para obter esta imagem ainda pude sentir o odor
característico da linha do trem: o enxofre transportado pelos trens de carga
que eventualmente caíam pelo caminho pequenas pedrinhas amarelas. Quantas
outras histórias não guardam estes trilhos?
Fiz
diversas tomadas das casas à beira da Linha do Trem, enfocando a bela harmonia
entre as construções e a linha férrea. Tais moradias ainda mantêm
características do passado, a começar pelos seus muros e portões baixos, com
cerca de um metro e a estrutura geral das casas, suas janelas altas e
estreitas, seu chão de cimento queimado vermelho, onde as moradoras ainda os
enceram.
Vila São Paulo. Foto
de Thais Oliveira Silva. 12. Jan. 2012
Na foto acima vemos a imagem que captei uma das casas num dia ensolarado, onde a
folhagem destas goiabeiras escurece o primeiro plano, desenhando assim uma
moldura natural para o segundo plano, onde se encontram as casas.
Resistentes ao Tempo. Foto de Thais
Oliveira Silva. 21. Abr. 2012
Já na foto acima, efetuada numa tarde nublada
e fria, conferindo a imagem um clima saudoso, vemos novamente as casas dos
antigos trabalhadores da Sorocabana, onde esta trilha de areia a perder-se de
vista é convidativa. Até onde ela irá?
Quanto
ao trajeto da linha do trem, ou seja, o rumo dos trilhos, minhas fotos
concentraram-se em tomadas em frente ao bairro do Baixio e sobre a Ponte sobre
o Rio. É um dos poucos locais em que a linha férrea ainda é visível e de livre
acesso. Realizei a série não apenas num único dia, mas em diversos, buscando
também o registro em diversas condições climáticas.
Na
imagem abaixo, idealizei esta composição baseada em lembranças de minha infância,
em que neste mesmo horário registrado, final da tarde, quando eu sentia um
misto de prazer, adrenalina e medo da altura no alto da ponte, durante este
trajeto sobre o Rio Itanhaém. Desta tomada, vemos os Portos do Baixio, tendo ao
fundo a Ponte da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega e ao longe nossas serranias
imersas em brumas nesta perspectiva atmosférica.
Oxidação Vertiginosa. I Foto
de Thais Oliveira Silva. 18. Mar. 2012
A
partir da postagem desta imagem no site de fotografia Olhares, o fotógrafo
português João Evangelista expõe o seguinte pensamento:
Uma dos melhores exemplos do uso da
composição diagonal!...além da luz estar fantástica, o facto de você ter incluído
e aproveitado o grafismo desta protecção foi inteligente da sua parte!...além
de ser cativante visualmente tornou esta composição "lógica"!
Se fosse à horizontal, seria mais um efeito
de perspectiva como se vê tantas vezes por ai, mas assim ficou bem mais
interessante e original!!!
Bem visto Thais e mais uma vez parabéns!
PEREIRA, João Evangelista Dos Santos.
JEvangelista. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por <
jespcl3@yahoo.fr> em 07. Jun. 2012.
Já a imagem abaixo foi tomada numa tarde nublada e escura. Devido á tal condição climática o
Rio Itanhaém apresenta-se opaco, sem o brilho conferido ao Rio na imagem de cima. Percebemos que a condição da luz deste dia nos proporcionou observar
ainda mais a condição de deterioração de sua estrutura metálica. A ferrugem ai
apresentada possui um toque de textura. A tomada foi feita do lado direito da
ponte da linha do trem, onde vemos em segundo plano a Ponte Sertório
Domiciliano.
Oxidação Vertiginosa. II Foto
de Thais Oliveira Silva. 20. Abr. 2012
A
imagem abaixo foi registrada no sol do fim da manhã, conferindo ainda
longas sombras á sua frente. É impossível trilhar mais uma vez pela linha do
trem e não me recordar de minha avó, do tempo em que seguíamos não apenas onde
alcança este enquadramento, mas muito além, horas de caminhada a pé por estes
trilhos hoje abandonados. Era costume caiçara andar a pé longos percursos e
quando em minha infância passávamos por ai, não estávamos sozinhos, mulheres,
homens e crianças também percorriam por lá, sempre atentos à aparição dos
trens. Estes que desde sua chegada o povo itanhaense, especialmente ás moças,
como contam os antigos, acenavam alegremente aos moços que se encontravam nos
trens. Levava escondido um batom para apresentarem-se belas, um longo sorriso,
o silêncio do encontro dos olhares... A despedida... Mais uma ilusão...
Presença do Ausente II. Foto de Thais
Oliveira Silva. 20. Abr. 2012.
Na foto abaixo temos a imagem da ponte
da linha do trem sobre o Rio Itanhaém. A tomada da imagem foi feita numa
pequena praia embaixo da ponte, onde objetivei registrar imagens do estado da
estrutura da ponte atualmente A vertigem causada pela imagem consegue ilustrar
o fato de a anterior ponte ter caído numa manhã do ano de 1946. Atualmente
apenas pescadores ousam permanecer na ponte desativada devido ás inúmeras
deteriorações de seus ferros oxidados. Possuímos uma lenda local baseada neste
fato, onde se acredita que um mero (um grande peixe de doze metros de
comprimento) vive nos vagões submersos no fundo do Rio Itanhaém. A
tranquilidade das águas aqui registrada é capaz de esconder um grande mistério:
há ou não um Mero em nosso Rio?
Ponte enferrujada. Foto de Thais
Oliveira Silva. 27. Dez. 2011.
Outras Imagens:
Pelo que eu sei a SPR (São Paulo Railway) passou a denominar-se Estrada de Ferro Santos a Jundiaí ao fim da Concessão. A SSPR (Southern São Paulo Railway) que era concorrente da SPR passou a denominar-se Estrada de Ferro Sorocabana.
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