domingo, 16 de março de 2014

Recortes da Vida cotidiana

Ah! Itanhaém que guardei comigo
Desde a primeira vez que te vi
Mar tão azul, areias douradas,
Conchinhas, quais tesouros escondidos
Que a gente, caminhando,
Por horas apanhava
E, com usura, trazia tão guardadas.

II
Ainda vejo tuas ruas tranquilas
Areia, só areia em toda parte
Nossos pés, em delícia, nela se moviam
Tudo era calmo, pressa não havia
E nossos sonhos, quase reais, viviam...

III
Mal sabia que aqui ficaria
Pra sempre, realizando o inacabado
Quero leva-lo e sei que isto consigo
Por onde for, Minh’ alma já liberta
Cada pedaço de ti irá comigo.

(Elza Cobra Soares. ITANHAÉM... In: Itanhaém, beleza em prosa e verso. Itanhaém, 1997)

Percorri minha terra passando invisível, para não perder a fluidez do tema. Para registrar sem atrapalhar nada a vida em que lá pulsava. Captei diversos flagrantes da vida cotidiana de Itanhaém neste período de meu processo de criação.
               É difícil, se não impossível dissociar nossa vida cotidiana dos lugares históricos encontrados no Centro da cidade e pelos bairros tradicionais, da praia e do mar, bem como de nosso contínuo contato com a natureza, seja ela em mata fechada, seja em cultivar árvores frutíferas em nossas ruas. Nossa vida está pautada em todas estas áreas, por este motivo, selecionei em minha série, pessoas anônimas e desconhecidas a mim, vivendo um fragmento de suas vidas em harmonia a um destes lugares. Foram momentos fortuitos, onde não pedi autorização para fotografá-los, apenas registrei, há casos em que pedi autorização, como o grupo das varredoras de rua, da frente de trabalho, em que as retratei em frente ao casario num dia de chuva intenso e frio, mas mesmo assim ainda são anônimas, pois não lhes pedi seus nomes, quis apenas lhes conferir algum valor, já que fotografar é atribuir valor. (SONTAG, 2006)


 “Fotografar é atribuir Valor”.  Thais Oliveira Silva. 16. Mar. 2012.


A imagem acima mostra este grupo de varredoras de rua muito simpáticas, limpando a Praça Carlos Botelho, centro, onde estão localizados os Casarios. Ao posarem para o retrato, não se afastaram de seus instrumentos de trabalho, suas vassouras, mas as manteram junto a si, com todo respeito e dignidade que se pode ter por si mesmo.
Através do desenvolvimento de minha poética visual, baseei-me no pensamento do fotógrafo Cartier-Bresson (2004), onde busquei fotos não encenadas. Busquei registrar as pessoas de modo honesto e respeitoso. Em nenhuma das imagens de retratos pedi para que fizessem tal pose ou posassem perto de tal lugar. Simplesmente os registrava naquele momento em que os encontrava, buscando captar a essência de cada um dos retratados. Busquei sentir cada momento, cada local por onde passei para então poder registrar de modo contextualizado, não algo vago, onde se tira a pessoa para captá-lo. Houve espontaneidade tanto em meu registro, quanto no personagem captado, sempre existindo o respeito por ele e por mim, enquanto fotógrafa.


Unidos Foto de Thais Oliveira Silva.27. Dez. 2012


Na imagem acima registra meu encontro com esta família na Praça do Suarão. Foi um dia longo, um pouco cansativo, pois eu não estava ainda habituada a fotografar em grande quantidade num mesmo dia, hábito este que fui galgando paulatinamente, onde até tal encontro eu havia feito aproximadamente cento e cinquenta fotografias do centro da cidade até este bairro e o belíssimo sorriso da garotinha me cativou. Espontaneamente eles postaram-se de frente ao sol vespertino, em que tal atitude resultou nesta sombra única, deixando a família ainda mais unida, mais próxima. 


Manhã Chuvosa. Foto de Thais Oliveira Silva. 16. Mar. 2012

Numa manhã chuvosa e fria saí para registrar o cotidiano itanhaense. Na foto acima, está registrada a imagem de um morador que acaba de sair do Supermercado, com sua sacolinha plástica cheia. A praça Narciso de Andrade neste momento está deserta, tendo como único personagem apenas este homem sob o calçadão úmido.
Na cena seguinte,  há semelhanças e diferenças com a anterior. São semelhantes apenas no sentido de ter apenas um único personagem, porém as diferenças prevalecem. Na imagem abaixo, o personagem percebe que é fotografado, porém não se incomoda, continua tranquilamente a varrer a frente de sua casa. O chão está forrado de flores vermelhas e alaranjadas, é algo belo de se ver, pois há uma profusão de cores nesta cena. O registro foi tomando numa tarde quente de verão, onde até mesmo este intenso céu azul contribui para a coloração vívida desta cena única que ocorre apenas durante o mês de Dezembro.


Chão Natalino. Foto de Thais Oliveira Silva.19. Dez. 2012




Na imagem abaixo aparece um pescador exibindo seus mais novos troféus. Eu estava também de bicicleta neste dia, meu objetivo não era de fotografar nada naquele período do dia, tinha algumas obrigações a cumprir, mas tal imagem me surpreendeu e me cativou. Este senhor ia calmamente atravessando diversos bairros deixando em evidência seus dois belíssimos peixes. O céu claro deste dia faz um belo contraste com a pele escura, curtida pelo sol deste homem. Ele estava se deslocando não pelo meio fio, mas quase no meio da rua, nem por isso os motoristas dos carros o repreenderam; foi como se todos os presentes naquele percurso estivessem admirados e dando passagem ao cortejo caiçara, este que mesmo hoje em dia vivendo tão distante do mar, não o abandona; seu velho amigo é fiel a ele.
Para fotografá-lo, eu tive que correr na frente dele, para ter tempo de encontrar a câmera dentro de minha bolsa e posicionar-me em frente à Praça Ângelo Guerra, localizada no bairro Belas Artes, a fim de que a imagem não saísse tremida se eu a tivesse feito em movimento, em cima de minha bicicleta. Quando enfim chegou o vaidoso pescador, o registrei e ainda pude avistá-lo continuar seu caminho satisfeito e orgulhoso de seu notável feito.

História de Pescador. Foto de Thais Oliveira Silva. 17. Dez. 2011





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