Ah! Itanhaém que
guardei comigo
Desde a primeira vez
que te vi
Mar tão azul, areias
douradas,
Conchinhas, quais
tesouros escondidos
Que a gente,
caminhando,
Por horas apanhava
E, com usura, trazia
tão guardadas.
II
Ainda vejo tuas ruas
tranquilas
Areia, só areia em toda
parte
Nossos pés, em
delícia, nela se moviam
Tudo era calmo,
pressa não havia
E nossos sonhos,
quase reais, viviam...
III
Mal sabia que aqui
ficaria
Pra sempre,
realizando o inacabado
Quero leva-lo e sei
que isto consigo
Por onde for, Minh’
alma já liberta
Cada pedaço de ti irá
comigo.
(Elza Cobra Soares. ITANHAÉM... In: Itanhaém, beleza em
prosa e verso. Itanhaém, 1997)
Percorri
minha terra passando invisível, para não perder a fluidez do tema. Para
registrar sem atrapalhar nada a vida em que lá pulsava. Captei diversos
flagrantes da vida cotidiana de Itanhaém neste período de meu processo de
criação.
É difícil, se não
impossível dissociar nossa vida cotidiana dos lugares históricos encontrados no
Centro da cidade e pelos bairros tradicionais, da praia e do mar, bem como de
nosso contínuo contato com a natureza, seja ela em mata fechada, seja em
cultivar árvores frutíferas em nossas ruas. Nossa vida está pautada em todas
estas áreas, por este motivo, selecionei em minha série, pessoas anônimas e
desconhecidas a mim, vivendo um fragmento de suas vidas em harmonia a um destes
lugares. Foram momentos fortuitos, onde não pedi autorização para
fotografá-los, apenas registrei, há casos em que pedi autorização, como o grupo
das varredoras de rua, da frente de trabalho, em que as retratei em frente ao
casario num dia de chuva intenso e frio, mas mesmo assim ainda são anônimas,
pois não lhes pedi seus nomes, quis apenas lhes conferir algum valor, já que
fotografar é atribuir valor. (SONTAG, 2006)
“Fotografar é atribuir Valor”. Thais Oliveira Silva. 16. Mar. 2012.
A
imagem acima mostra este grupo de varredoras de rua muito simpáticas, limpando a
Praça Carlos Botelho, centro, onde estão localizados os Casarios. Ao posarem
para o retrato, não se afastaram de seus instrumentos de trabalho, suas
vassouras, mas as manteram junto a si, com todo respeito e dignidade que se
pode ter por si mesmo.
Através
do desenvolvimento de minha poética visual, baseei-me no pensamento do
fotógrafo Cartier-Bresson (2004), onde busquei fotos não encenadas. Busquei
registrar as pessoas de modo honesto e respeitoso. Em nenhuma das imagens de
retratos pedi para que fizessem tal pose ou posassem perto de tal lugar.
Simplesmente os registrava naquele momento em que os encontrava, buscando
captar a essência de cada um dos retratados. Busquei sentir cada momento, cada
local por onde passei para então poder registrar de modo contextualizado, não
algo vago, onde se tira a pessoa para captá-lo. Houve espontaneidade tanto em
meu registro, quanto no personagem captado, sempre existindo o respeito por ele
e por mim, enquanto fotógrafa.
Unidos Foto
de Thais Oliveira Silva.27. Dez. 2012
Na
imagem acima registra meu encontro com esta família na Praça do Suarão. Foi um dia
longo, um pouco cansativo, pois eu não estava ainda habituada a fotografar em
grande quantidade num mesmo dia, hábito este que fui galgando paulatinamente,
onde até tal encontro eu havia feito aproximadamente cento e cinquenta
fotografias do centro da cidade até este bairro e o belíssimo sorriso da
garotinha me cativou. Espontaneamente eles postaram-se de frente ao sol
vespertino, em que tal atitude resultou nesta sombra única, deixando a família
ainda mais unida, mais próxima.
Manhã Chuvosa. Foto
de Thais Oliveira Silva. 16. Mar. 2012
Numa
manhã chuvosa e fria saí para registrar o cotidiano itanhaense. Na foto acima, está registrada a imagem de um morador que acaba de sair do
Supermercado, com sua sacolinha plástica cheia. A praça Narciso de Andrade neste
momento está deserta, tendo como único personagem apenas este homem sob o
calçadão úmido.
Na
cena seguinte, há semelhanças e diferenças com a anterior. São
semelhantes apenas no sentido de ter apenas um único personagem, porém as
diferenças prevalecem. Na imagem abaixo, o personagem percebe que é fotografado,
porém não se incomoda, continua tranquilamente a varrer a frente de sua casa. O
chão está forrado de flores vermelhas e alaranjadas, é algo belo de se ver,
pois há uma profusão de cores nesta cena. O registro foi tomando numa tarde
quente de verão, onde até mesmo este intenso céu azul contribui para a
coloração vívida desta cena única que ocorre apenas durante o mês de Dezembro.
Chão Natalino. Foto de Thais Oliveira Silva.19. Dez. 2012
Na
imagem abaixo aparece um pescador exibindo seus mais novos troféus. Eu estava
também de bicicleta neste dia, meu objetivo não era de fotografar nada naquele
período do dia, tinha algumas obrigações a cumprir, mas tal imagem me
surpreendeu e me cativou. Este senhor ia calmamente atravessando diversos
bairros deixando em evidência seus dois belíssimos peixes. O céu claro deste
dia faz um belo contraste com a pele escura, curtida pelo sol deste homem. Ele
estava se deslocando não pelo meio fio, mas quase no meio da rua, nem por isso
os motoristas dos carros o repreenderam; foi como se todos os presentes naquele
percurso estivessem admirados e dando passagem ao cortejo caiçara, este que
mesmo hoje em dia vivendo tão distante do mar, não o abandona; seu velho amigo
é fiel a ele.
Para
fotografá-lo, eu tive que correr na frente dele, para ter tempo de encontrar a
câmera dentro de minha bolsa e posicionar-me em frente à Praça Ângelo Guerra,
localizada no bairro Belas Artes, a fim de que a imagem não saísse tremida se
eu a tivesse feito em movimento, em cima de minha bicicleta. Quando enfim
chegou o vaidoso pescador, o registrei e ainda pude avistá-lo continuar seu
caminho satisfeito e orgulhoso de seu notável feito.
História de Pescador. Foto de Thais
Oliveira Silva. 17. Dez. 2011
Outras Imagens:
Nenhum comentário:
Postar um comentário